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domingo, 30 de junho de 2013

Atualização do desafio junho/2013

No mês de Junho, facilmente, eu consegui cumprir com a meta. E cheguei à metade do desafio. Acompanhe o que eu já li e resenhei até agora:

  1. As vantagens de ser invisível - Stephen Chbosky - Editora Rocco
  2. Sábado à Noite - Babi Dewet - Editora Évora
  3. Lola e o garoto da casa ao lado - Stephanie Perkins - Editora Novo Conceito
  4. O Herói Perdido - Rick Riordan - Intrínseca
  5. Apaixonada por palavras - Paula Pimenta - Editora Gutenberg
  6. O Filho de Netuno - Rick Riordan - Intrínseca
  7. A marca de uma lágrima - Pedro Bandeira - Editora Moderna
  8. O Guia do mochileiro das galáxias - Douglas Adams - Editora Arqueiro
  9. Rosa e Túmulo - Diana Peterfreund - Editora Galera Record
  10. Contos de amor rasgados - Marina Colasanti - Editora Record
  11. Pobre não tem sorte - Leila Rego - Editora All Print
  12. Luna Clara e Apolo Onze - Adriana Falcão - Editora Salamandra
  13. Aquele Verão - Sarah Dessen - Editora ID
  14. Mariah Mundi - A caixa de Midas - G.P. Taylor - Editora Paneta Jovem
  15. Tequila Vermelha - Rick Riordan - Editora Record
  16. Antologia Poética - Mário Quintana - L&Pm
  17. O Castelo Animado - Diana Weynne Jones - Editora Galera Records
  18. Confissões de Adolescente - Maria Mariana - Editora Agir
  19. Fazendo Meu Filme 1 - Paula Pimenta - Editora Gutemberg
  20. Ninhonjin - Oscar Nakasato - Editora Benvirá
  21. A Seleção - Kiera Cass - Editora Seguinte
  22. A Culpa é das Estrelas - John Green - Intrínseca
  23. Longe é um lugar que não existe - Richard Bach - Editora Record
  24. A Música que Mudou Minha Vida - Robin Benway - Editora Galera Record
  25. A menina que roubava livros - Markus Zusak - Intrínseca
  26. O Teorema Katherine - John Green - Intrínseca
  27. Histórias Maravilhosas - Truman Capote - Editora Nova Fronteira
  28. As Melhores Histórias da Mitologia Africana - A.S. Franchini e Carmen Seganfredo - Editora Artes e Ofícios
  29. Olhos de Cão Azul - Gabriel García Márquez - Editora Record
  30. Anna e o Beijo Francês - Stephanie Perkins - Editora Novo Conceito
  31. Para Cima e Não Para o Norte - Patrícia Portela - Editora Leya
  32. Como Quase Namorei Robert Pattinson - Carol Sabar - Editora Jangada
  33. A Terra das Sombras - Meg Cabot - Editora Record
  34. A Última Princesa - Fábio Yabu - Editora Galera Record
  35. A Elite - Kiera Cass - Editora Seguinte
  36. Soul Love - À noite o céu é perfeito - Lynda Waterhouse - Editora Melhoramentos
  37. O Arcano Nove - Meg Cabot - Editora Record
  38. Sangue, ossos e manteiga - Gabrielle Hamilton - Editora Rocco
  39. O Livro do Amanhã - Cecelia Ahern - Editora Novo conceito
  40. Jogos Vorazes - Suzanne Collins - Editora Rocco
  41. Toda Poesia - Paulo Leminski - Companhia das Letras
  42. Reunião - Meg Cabot - Editora Record
  43. Cinquenta tons do Senhor Darcy - Emma Thomas - Editora Bertrand Brasil
  44. Comédias para se ler na escola - Luís Fernando Veríssimo - Editora Objetiva
  45. Esperando por você - Susane Colasanti - Editora Nova Conceito
  46. A hora mais sombria - Meg Cabot - Editora Record
  47. Eragon - Cristopher Paolini - Editora Rocco
  48. Assombrado - Meg Cabot - Editora Record
  49. Crepúsculo - Meg Cabot - Editora Record
  50. Feios - Scott Westerfeld - Editora Galera Record

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Feios

Não estou completamente decidida sobre Feios de Scott Westerfeld. De modo geral, não gostei, só não quero fazer uma resenha tão terrível para não desestimular ninguém a tentar ler. 

Não nego que tem qualquer coisa na trama que atrai. Talvez a premissa da história seja boa. Bom, vamos a ela...

Num mundo distópico (distopia está tão na moda quanto as doenças de todas as naturezas), os poucos seres humanos que restaram criaram uma forma de acabar com o preconceito. Eles simplesmente acabaram com as diferenças de forma cirúrgica. Aos dezesseis anos, os jovens são submetidos a uma operação que os torna bonitos. Os padrões de beleza são os mesmos para o mundo inteiro, portanto, não há mais bullying, nem anorexia, nem inveja, nem moda. Tudo que é expressão individual é cortado sem que as pessoas sequer reclamem. Estes são os perfeitos.

Tally, a protagonista, tem quase 16 e sonha com o dia de reencontrar os seus amigos que já se tornaram perfeitos. Nesse período, ela conhece uma garota da sua mesma idade que tem um sonho diferente. Ela quer fugir, sair do controle severo, quer morar num lugar onde as pessoas possam continuar a envelhecer chamado Fumaça. Shay realmente foge deixando Tally para trás. Entretanto, as autoridades impedem Tally de se tornar perfeita até reencontrar Shay e entregar o esconderijo desse povo rebelde.

Parece bom, não é? Muita ação. Muita fuga. Povos escondidos. Tudo muito politicamente e ecologicamente correto. Tally, advinda deste universo futurístico sustentável, fica chocada que as pessoas em Fumaça cortem árvores e comam animais. Que coisa! Não achei esse papo convincente e é com certeza uma das partes que menos gostei. Tally não tem o instinto de sobrevivência de Katniss de Jogos Vorazes tão necessário nas distopias. No fim, ela é só uma menininha babaca.

Outra coisa que não gostei, pensei que já tinha saído de moda a ideia de que pessoas vivendo no meio da natureza se tornam exemplo de conduta. Rousseau e o mito do bom selvagem teve um revival em Lost e poderia ter ficado por lá. A comunidade hippie de Feios me deu nos nervos.

Mas, sei lá... Os sentimentos são controversos. O casalzinho do livro é chato que dói. Mas linguagem flui e as páginas passam depressa. Não gostei de como a premissa foi abordada, entretanto, eu acredito que leria o restante da série caso tivesse oportunidade.

Enfim, não recrimino de todo o livro. Sinto que ele pode ter algo a contribuir para os muito jovens. Uma porta para a comunicação sobre o que é o seu corpo e esse lance do conceito de beleza. O que é ser feio? O que é ser perfeito para alguém?

Então, tire suas próprias conclusões. E se você, assim como eu, acho a capa uma graça. Experimenta vai. E tira as suas próprias conclusões.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O dia depois de amanhã

Meu post hoje será sobre a vida real e não sobre ficção. 

Até agora não falei sobre as manifestações que estão ocorrendo em todo o Brasil porque não sou inteiramente a favor delas. Como meu público, na sua grande maioria adolescentes, pode ser bastante passional, achei melhor não inflamar uma ferida aberta numa geração sem causa para ser rebelde. 

O futuro da nação está nas ruas. Acordaram o gigante.  Posso ouvir ecos das músicas do Legião Urbana e do Cazuza em todos os cantos. De fato, como negar o grito de: Que país é esse? Não é mesmo? É fome. É descaso. É corrupção. É ladroagem.

Eu só gostaria de lembrá-los de que não é tão fácil assim largar um berço esplêndido onde se esteve deitado eternamente. Este país é uma democracia. E democracia não é o governo do demônio. É o governo do povo. Será que nós sabemos o que isso significa? Significa que a maioria vence. E a minha reflexão está no conceito de maioria.

Os brasileiros estão nas ruas caçando bruxas e exorcizando demônios, diga-se de passagem: todos de uma vez indiscriminadamente, já que hoje se reclama da faixa de pedestre fora do padrão FIFA à Pec 37. Como se fosse uma batalha de sabres de luz entre o bem e o mal. Acontece que, nesse cenário, somos nós que colocamos o Darth Vader no poder. Parece que de uma hora para outra todo mundo se esqueceu da sua parcela de responsabilidade nisso e pode apontar o dedo para o outro com toda a segurança do mundo.

Não sou contra uma manifestação. Sou contra a alienação, seja ela sentada no sofá ou no meio da rua pintado de verde amarelo. Acho que uma manifestação precisa de uma finalidade, de uma reivindicação exequível e de começo, meio e fim. Como foram as reivindicações do Movimento Passe Livre. No Brasil, entretanto, isso parece quase impossível. Hoje tem tanta gente segurando cartaz sem saber o motivo que virou micareta. E não venha me dizer que é por causa dos gastos abusivos da Copa. Qualquer um com o mínimo de discernimento vai fazer uma reflexão coerente e admitir que se oito anos atrás tivesse havido um plebiscito pela Copa do Mundo, a maioria, aquela maioria da democracia, teria dito SIM em letras garrafais. E como imaginar que seria diferente... Onde estavam os manifestantes nesses oito anos? Será que estavam vendo Mano Menezes cair e subir o Felipão?

Só para lembrar, os brasileiros estão nas ruas, mas os estádios estão lotados também. Até nos jogos de pequeno porte. Hoje, a briga era para sair mais cedo do trabalho, para assistir à seleção, já que não era feriado. Quem trabalhou, como eu e meus colegas, recebeu de brinde uma tentativa de assalto. Em plena escola, com um monte de alunos, sem ter para onde correr. Um horror. Por que o ladrão escolheu a escola? Porque todos os outros estabelecimentos estavam fechados. Fechados por causa do jogo. Não tinha ninguém nas ruas. Mesmo sem ser feriado. O brasileiro faz seus feriados para ver a canarinho em campo.

Enquanto escrevo, escuto fogos, mas não escuto manifestantes. E a maioria, gente? É a maioria que elege os representantes, ok? E nós não somos capazes de mudar um país sem ações inteligentes. Sem convencer a maioria. Maioria que acha que ser gay é errado. Maioria que acha que é certo prender menino de 16 anos. Maioria que não sabe do que são feito os três poderes desta nação. Nesse caso, ir para as ruas e fazer parte de uma festa pobre que os homens armaram para me convencer? Uma festa partidária. Uma festa que apaga algumas políticas públicas eficientes de distribuição de renda. Uma festa que talvez, para essa maioria perigosa, crie novos heróis. Paladinos da justiça como o Ministro Joaquim Barbosa? 

Tô ficando em casa...

Não sou contra as manifestações. Só acho que a verdadeira revolução acontece nas urnas. E lá o gigante continua no sono REM. Mil perdões pelo ceticismo, mas eu não sinto a menor falta de ditadura para me afirmar como intelectual. Tampouco vejo diferença entre um político ladrão e um idiota que aproveita uma manifestação para quebrar e saquear uma loja. Na minha cabeça, é tudo Brasil.

Nesse ponto, vou fazendo a minha parte. Vou educando e transformando cabeças. Cidadãos críticos que farão a revolução nas urnas. Cidadãos que um dia irão as ruas como maioria para decidir não o futuro de uma nação, que isso é muita coisa para uma manifestação só, mas que lutarão pelos vinte centavos da passagem ou pela segurança dentro da escola do seu bairro.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Trecho de Por onde andei

Eu podia ficar muito fula de raiva com a vida. Ah! Taí uma coisa que eu podia mesmo... Nem fico.
Quem me vê na capa da revista não sabe quem eu sou, nem da onde eu vim. Nasci Bruna Gabrielly de Oliveira Drummond. O Gabrielly eu excluí total. Nome composto já não está na moda. Mas, dois eles e um ípsilon é demais, a cara da favela. E eu já dei um chega pra lá na pobreza há muito tempo.
Mas nem sempre foi assim. Peguei muito ônibus lotado. Gente suada. Mulheres carregando sacolas e sacolas cheias de potes plásticos. Eu, tão pequena no meio daquilo tudo, agarrada na perna da minha mãe, ela mesma, mais uma das mulheres cheias de sacolas. Saí daqui passado que não me pertence! Nem eu acredito mais nisso. Quem me vê pensa que nasci de frente para o mar.
Hoje, nas entrevistas, digo que fui classe média. Que cresci num bairro descente da minha cidade. Que estudei em escola particular. Que nada! Minha mãe vendia confecção popular num quiosque no centro. E o meu pai? Meu pai era um playboyzinho de periferia. Desses que a mãe sustentou no sacrifício a vida inteira para que no final ele não valesse nada.
Meu pai até hoje está querendo abrir um negócio próprio. Não tolera patrão, diz ele. Mentira! O que ele não tolera é trabalho. Agora, verdade seja dita, nunca foi machista ou orgulhoso. Sempre teve uma mulher para sustentá-lo e isso nunca o ofendeu. Primeiro minha avó, depois minha mãe, tentou comigo também. Ah! Mas aí ele caiu do cavalo! Eu não sou mulher de bancar marmanjo. Acho que nunca serei...
Quer dizer, talvez eu seja! Não me incomodaria de bancar um moreno saradinho, ou um loiraço de olhos azuis penetrantes. Tê-los aqui, na palma da minha mão. Aí, quem sabe, seja uma vantagem. Porque esse lance de amor também... Já vi que isso é tão mentira quanto eu mesma. E é furada da grossa! Nessa brincadeira a gente só se ferra.
As pessoas acreditam em amor de novela. Não sei como. Pura bobagem. Eu faço a novela. Posso garantir, na vida real aquilo lá é impossível. Amor? Amor não move montanhas, o dinheiro sim. No fundo, tudo tem a ver com fama, dinheiro e grana.
Eu também não sou idiota. Quero muito tudo isso. Quero agora. Quero já. Amor eu compro depois. Por isso, quando a minha agente falou que eu deveria participar desse programa, nem pensei duas vezes. Ela precisou de poucas palavras para me convencer: vai subir o cachê.
Eu e a Daniela, isso sim é que é amor de verdade. O que nos une é a grana. Bufunfa. Troco. E a ideia é brilhante. A Dança dos Famosos! Como é que eu não pensei nisso antes? Milhares de brasileiros me vendo arrasar na pista de dança com minha pose de boa moça. Vai chover comercial e vou conseguir o papel adulto que eu tanto quero. Vou acabar esse negócio como protagonista da nova novela das nove.
Mas nada poderia ser fácil para mim. Não. Não seria a minha vida se fosse fácil. Se fosse tudo em paz, não seria Bruna Drummond. Já até me acostumei.
Enfim, tô lá bem sentadinha. Sorriso glamoroso. Carão. Cabelo lindo. Esperando delicadamente o sorteio dos parceiros para o programa. E aí, de todas as pessoas desse mundo inteiro para dançar comigo, eis que surge Carlos Eduardo Meireles Dávila. O idiota da minha sala do Colégio Santa Inês.
Como, meu Deus? Como? Será que eu não paguei o suficiente de penitência nesse mundo? Será que o divórcio conturbado dos meus progenitores (pai e mãe deve ser outro tipo de coisa que eu mesma nunca conheci) não foi suficiente? Será que as audiências pela minha guarda e pelo meu dinheiro não limparam os pecados da outra encarnação ainda?
Agora, eu vou ter que encostar nesse idiota. Nesse metidinho. Nesse filhinho de papai. Nesse intelectualzinho de merda. E pior, vou ter de fazer isso sorrindo para centenas de pessoas na televisão.
Ah! Mas esse cara não vai conseguir me derrubar do salto. A vida já me deu muita rasteira para que eu caia por qualquer coisa.

Eu nasci atriz. Na maternidade, o meu choro era o mais dramático. Minha avó diz que eu aprendi a fingir manha antes mesmo de aprender a sentar. Eu supero. E supero com sorriso nos lábios. Supero acenando para os fãs. Vou transformar essa dupla em campeã, nem que me custe sangue, suor e lágrimas.

domingo, 23 de junho de 2013

RELICÁRIO



A paisagem continuava igualzinha. Nada mudara naqueles cinco anos. Nada é exagero, ela era outra. Diz-se que o homem não se banha duas vezes no mesmo rio. Pura verdade. Nunca será a mesma água, nunca será o mesmo homem. Maria Lúcia não poderia mais ser a menina que deixara aquele lugar.
A paisagem, entretanto, fazia surgir em seus olhos uma lágrima discreta. Às vezes, a infância não nos abandona por completo. Era esta a sensação que a acompanhava passando por aquela estrada tantas vezes percorrida. Era a primeira vez que ela vinha à casa do seu pai dirigindo um carro, embora conhecesse o caminho, não era exatamente a mesma coisa.
Nos anos que passou nos Estados Unidos, prometeu mil vezes vir nas férias. Mas as férias nunca vieram. Eram tantas oportunidades imperdíveis. Cursos, palestrantes, oportunidades de estágio, que um ano virou dois, três, cinco. E ela não voltara ao Brasil nenhuma vez sequer. Não fosse a família ter ido visitá-la, morreria de saudades.
Saudade absurda como a que estava sentindo da afilhada e da melhor amiga. Isaura e Laurinha não teriam condições de arcar com uma viagem internacional. Passaram tempo demais apenas trocando e-mail. Então, desejava imensamente o reencontro com as duas. Tanto, tanto, que adiantou o retorno definitivo para casa em dois dias para poder estar com a afilhada no seu aniversário de seis anos. Isaura não fazia ideia de que chegaria de surpresa.
Aliás, nem o pai fazia ideia de que ela já voltara para casa. Maria Lúcia simplesmente alugara um carro no aeroporto e estava na estrada. Fora estranho, tivera que pedir uma permissão internacional para dirigir, não tinha a carteira brasileira de habilitação. Morara fora por muito tempo a ponto de se sentir estrangeira no próprio país.
Mas esse foi um sentimento que passou rápido, pois assim que ouviu as primeiras palavras em português, seu coração bateu apressado. Chegara, ali era o seu lugar. Não voltaria nunca mais ao estrangeiro, a não ser a passeio. Não se arrependia, é claro. Tivera muitas oportunidades. Crescera como profissional de uma maneira que o Brasil não podia proporcionar, mas o preço cobrado era muito alto. Ficara longe demais daqueles a quem amava.
Era bem por isso que aquelas paisagens lhe traziam lágrimas nos olhos. Saudades. Aprendeu amargamente que certas pessoas deixam marcas profundas nas personalidades. E não pensava esse momento em ninguém da sua família.
Ao passar pelo restaurante na beira da estrada, onde anos antes pararam para lanchar numa noite fria, o coração deu um pulo e o nome dele veio ao lábios sem encontrar força para sair. Não tinha coragem suficiente par dizê-lo. Pensar nele era difícil. Pronunciar seu nome tornaria aquela dor real demais.
Mesmo assim parou na lanchonete. Estava cansada da viagem. Nunca dirigia tantas horas assim. Precisava esticar as pernas, comer alguma coisa A lanchonete parecia ser o melhor lugar. Faltava pouco mais de uma hora até estar nos braços carinhosos da avó.
Como acontece sempre nessas lanchonetes de meio de estrada, tudo continuava exatamente no mesmo lugar. Ela sentou, pediu um misto-quente, sanduíche tão brasileiro, um guaraná e aproveitou os momentos e as lembranças.
Estava decidida: iria procurá-lo, pedir perdão, implorar pelo seu amor. Ele não diria não. O sentimento que os unia não era uma coisinha qualquer. O que eles viveram estava impresso na alma. Impossível de esquecer. Precisava apenas de uns dias para se estabelecer. Para criar coragem de encarar aqueles olhos verdes.
Pagou a conta. A tristeza passara. A decisão de lutar lhe acalmava o coração. Não era mais a menina insegura. Assistira vidas demais se perderem naquele hospital até entender que um segundo pode decidir tudo. No jogo da existência, as apostas são altas. Ela não estava mais disposta a blefar, muito menos estava disposta a perder.
Deu partida. O carro estancou. Alguma coisa estava errada. Mesmo assim, com algum esforço, pegou. Ela não conhecia bem os carros brasileiros. Se não fosse por um namorado, jamais teria sequer aprendido a passar marchas, estava acostumada a carros automáticos.
Aquela falha lhe deixou meio insegura, mas faltava pouco tempo até a casa do pai. Respirou fundo e acreditou que daria para chegar. Enganara-se. Vinte minutos depois, o carro parava de vez. Maria Lúcia fez o que pôde dentro dos seus poucos conhecimentos em mecânica. Em pouco tempo, entretanto, desistiu e ligou para a seguradora. Estava presa na estrada por pelo menos duas horas.
Ficou sentada olhando para o celular. Não sabia se ligava ou não para o pai. O que ele poderia fazer, não é mesmo? Apenas esperar com ela pela seguradora. E ainda estragaria a surpresa. Se não fosse demorar muito, ela mesma esperaria.
Malu pegou o seu tablet e começou a ler um livro qualquer. Nem deu por conta do tempo. Por isso, quando um carro estacionou no acostamento logo atrás do seu, acreditou que se tratava da empresa de aluguel.
Ela não conseguia ver o rosto do funcionário, mas achou o carro muito elegante para uma seguradora. O rapaz usava uma calça social preta e uma camisa de botão de manga longa que ele ia dobrando até o cotovelo, enquanto caminhava até a janela. O traje não era muito apropriado para a ocasião.
─ Moça, você está com algum problema? Eu posso ajudar?
Foi somente quando aquela voz chegou ao seus ouvidos que ela entendeu do que se tratava. O coração queria saltar pela boca. Claro que ele também viria para o aniversário de Laurinha. Claro que ele ajudaria qualquer pessoa parada com problemas mecânicos no meio da estrada.
Ela sentia todo o seu corpo tremendo. Precisava criar coragem e baixar o vidro. Precisava encarar os olhos muito verdes e muito claros de Vinícios. Ansiava por isso até. Mas a menina insegura de outrora a impedia de se mexer. O corpo inteiro travara.
Ele já colocara as mãos na janela do carro. Aquelas mãos tão queridas, tão amadas. Ela percorreu com os olhos cada detalhe das mãos do rapaz que ela um dia amou tanto. O rapaz, como ela podia ver através do fumê do carro, tornara-se um homem. Um homem belíssimo. Um homem com uma aliança na mão direita.
Vinícios insistia do lado de fora. Solícito. Educado. Como sempre. Perguntava se ela estava bem. Se ela precisava de ajuda. Não podia vê-la direito. Ela não conseguia se mexer. Mas aquela aliança atirara na sua cara a verdade. Maria Lúcia precisava tomar uma atitude antes que o anel migrasse da mão direita para a esquerda. Baixou o vidro decidida a vencer.

─ Malu? – Vini não estaria mais surpreso se encontrasse o espírito de Michael Jackson dentro do carro.

sábado, 22 de junho de 2013

Crepúsculo

Se você estava pensando pelo título que eu ia falar de vampiros e lobisomens e protagonistas sem sal, se enganou. O Crepúsculo aqui é outro. Este é o sexto e último volume (graças a Deus, né?) da série A Mediadora.

Bom, vocês imaginam que falar do fim da série e não dar spoiler é uma tarefa bem complicada. Acho que se você é desses maníacos que não podem saber nem uma vírgula sobre a história antes de ler é bom nem ir muito adiante, porque vai ser inevitável mencionar uma coisa ou outra.

Para começo de conversa, não sei ainda se gostei do fim. Para mim, foi satisfatório, visto que romances entre gente viva e gente morta não podem, no plano da lógica, funcionar muito bem. Então, tipo assim, tá, né, vou engolir. Eu tinha prometido não levar a coisa toda muito a sério e fui nesse nível até a última página. Em verdade, poderia ter sido pior se a autora tivesse utilizado o lance com a transferência de corpos. Só acho...

A historinha de Suzannah, Paul e Jesse vai se complicando e as piadinhas são cada vez mais raras. Paul, convencido de que ama Suzannah, e com superpoderes cósmicos e fenomenais, decide voltar ao passado para impedir Jesse de morrer e, portanto, de ter assuntos inacabados. Olha, que eu até gostei dessa premissa. Primeiro, porque Paul demonstra um pouco de caráter. Afinal, que tipo de pessoa sacana iria preferir o amor da sua vida morto? Suzannah prefere. Depois, porque a escolha de Jesse é bem difícil para um livrinho tão despretensioso, viver feliz, sem nunca conhecer Suzannah, ou morrer por amor? É quase Lorde Byron de tão romântico.

Falar mais do que isso é estragar a surpresa. Vou ficando por aqui. De modo geral, a quem interessar possa, gostei da série. Foram horas prazerosas de leitura rápida e leve. Indico demais.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

4000


Ainda faltam uns dez dias para o mês de junho acabar e o blog já alcançou as 4000 visitas. Gente, que coisa mais bacana! Não esperava que as coisas caminhassem tão rápido e que tantas pessoas assim se interessassem pelo que eu ando escrevendo. Até porque sei que nem todo mundo curte literatura, então, vir aqui sempre que dá é uma demonstração de carinho que eu agradeço com sinceridade.

Esses posts de agradecimento pelas visitas são sempre um momento de retrospectiva. Eles me fazem olhar para trás, quando estava apenas falando para o universo e contemplar o futuro. Imagino onde estaremos no primeiro aniversário do blog. O que faremos? Quantas visitas teremos? Será que já terei completado o desafio? Será que eu aguento um ano de blog nesse ritmo?

Uma amiga falou que blog dá trabalho. Dá mesmo. Fico preocupada de não postar algo novo. De não falar nada de interessante. De entediar vocês com um assunto. De deixá-los por muito tempo e vocês me esquecerem. E, além disso, a vida fora da tela continua sem trégua. Tenho trabalhos para corrigir, aulas para dar, cursos para fazer, marido, família e casa. Não é moleza fazer tudo isso e ainda ler a meta a que me submeti. Apesar de que estou adorando o compromisso com todos esses livros gostosos. 

E ainda tem o ato de escrever. Não somente os posts, bem, esses são rápidos de fazer. Mas eu tenho minhas próprias histórias para contar. E esse é o propósito maior do blog. Confesso que esse mês eu quase não escrevi. Não sei se fiquei feliz com o resultado da minha última historinha. Talvez eu mude... Além disso, precisava de um tempo para as ideias se assentarem, para eu conhecer mais meus próximos personagens. Enfim, estou de férias merecidas depois de três livros seguidos. Acho que mereço.

Esse mês, que nem terminou ainda, eu li. Li muito. Terminei a série A Mediadora (como vocês puderam ver com a enxurrada de posts sobre isso). Cumpri minha meta de oito livros rápido. Tô de parabéns nesse sentido. E ainda temos muitos dias pela frente. 

Julho, para completar, é férias. E o que eu pretendo fazer?
LER. LER. LER e LER.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Assombrado

Eu sei, eu sei, eu sei. Vocês não aguentam mais resenhas da série A Mediadora. Prometo, gente, vai acabar logo. Graças a minha maneira quase compulsiva de ver a vida, só falta mais um volume da série e eu tô saindo daqui para ler, garanto.

Além disso, essa resenha aqui vai ser curtinha, porque qualquer coisa que eu vá falar desse livro vai acabar sendo spoiler, então, vou evitar dar muito, ok?

Assombrado (que nominho tosco para um livro, não é não?) é o quinto volume da série. A meu ver, bem podia ser apenas uma continuação do quarto, pois de fato não acontece muita coisa na vida sobrenatural de Suzannah. Na vida pessoal, entretanto, a coisa meio que desembesta...

Paul Slater, o misterioso rapaz do livro anterior, vai estudar na mesma escola de Suzannah. Bem, além do fato de que ele também é um mediador, ou melhor, um deslocador (descubra o que é lendo), ele parece disposto a conquistar o coração da protagonista, o que causa algum desconforto com Jesse, o bonitão de sotaque espanhol que mora no quarto da moça e que só tem um pequeno probleminha, está morto.

Olha, apesar do caráter duvidoso de Paul, eu gosto dele. Gosto mesmo. Porque ele tem razão. Numa disputa pelo coração de Suzannah, que deveria ganhar era alguém que pelo menos estivesse vivo. Mas, sei lá, tenho minhas dúvidas se a autora vai ter alguma coerência nessa hora. Para ser sincera, acho que não. ela já deu indícios que vai fazer uma senhora cagada no final dessa série.

Saindo aqui para ver como isso termina...

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Eragon

Finalmente terminei de ler Eragon.
460 páginas.
Letra pequena.
História comprida.

Não que seja ruim. De fato, eu achei até bem legal. O rapaz, Christopher Paolini, é sem a menor dúvida um grande fã do Tolkien e do Senhor dos Anéis, pois a narrativa segue os mesmos moldes. Porém, ele é bem mais moroso do que o criador dos hobbits.

A impressão que se tem é que as 460 páginas de letras miúdas são apenas os primeiros passos de uma imensa caminhada. E o pior é que nem sempre está acontecendo algo empolgante. São muitas cenas de acampamento, muitas descrições, muitas fugas e batalhas sem graça. Tem uma hora que cansa.

Tudo isso tem lógica, é claro. O personagem Eragon não passa de um menino de interior que, por um acaso do destino, acaba enfrentando monstros terríveis e um governo ditatorial perigoso. Para se ter ideia de quão frágil é Eragon, nem ler ele sabe. Então, ele não nem muitas escolhas além de fugir, fugir e fugir. Acredito que nos volumes seguintes da trilogia (que segundo me informaram não é uma trilogia, mas uma coleção de cinco livros) os poderes do menino se desenvolvam e suas batalhas sejam bem menos tediosas.

Basicamente, a história de Eragon é a seguinte: um rapaz muito jovem de um interior bem afastado está caçando na floresta quando vê um clarão e acha uma pedra estranha. A pedra ele tenta vender e não consegue, mais tarde descobre que é um ovo de dragão. Isso porque o dragão nasce. Quando ele toca o animal místico se forma entre ele e a criatura uma conexão vital.

A partir daí, o menino Eragon vai fazer de tudo para manter Safira (o seu dragão, que é fêmea) em segredo. O problema é que tem gente muito importante em busca dela. O rei do império onde vivem subiu ao poder destruindo dragões e seus Cavaleiros. Antes de tudo isso acontecer, era função dessas pessoas e seus dragões proteger os indefesos. Ele mesmo, o rei, é um Cavaleiro desertor e tem poderes, força e a vida mais longa do que os outros humanos. 

Eragon, sem querer e sem treinamento, torna-se um Cavaleiro. Ele passa a ser perseguido por criaturas brutais e feiticeiros poderosos capazes até de entrar em sua mente. Com a ajuda de Brom, que à princípio parece apenas ser um velho contador de histórias, ele foge em busca de aliados. Nesse percurso, nós acompanhamos uma parte inicial do treinamento de Eragon e Safira e conhecemos um pouco sobre a mitologia que envolve a trama. Porém, com certeza, esta é apenas a entrada para este mundo imenso de fantasia criado por Paolini.

Particularmente, não me sinto tentada a continuar, pelo menos por enquanto, nessa aventura. Talvez, se eu assistir ao filme, quem sabe? Nada contra, achei apenas muito extensa e não me sinto com fôlego para tanto. Mas, se você é o tipo de pessoa que adora histórias com todos os detalhe explicadinhos e encaixados, acho que esse livro é pra você.


domingo, 16 de junho de 2013

A Hora Mais Sombria

Olha, até que este feriado prolongado surpresa (descobri quarta que não tinha aula em Maracanaú quinta por conta do dia de Santo Antônio, decisão superior de última hora, sabe como é?) foi produtivo em termos de leitura. Com A Hora Mais Sombria, falta um livro para bater a meta deste mês de oito livros e nós estamos apenas no dia 17... Esse mês promete.

Provavelmente, a próxima resenha será de Eragon, acho. Faz mais de uma semana que eu ando com esse livro para cima e para baixo e ainda não consegui terminar, faltam umas 180 páginas. Não que o bichinho seja ruim mas a letrinha é pequena e são 460 páginas de uma história que me parece imensa (sei lá quantos livros tem essa série!). Haja fôlego!

A técnica que estou usando é a de revezamento, leio 50 páginas de um e daí pego outro livro. É assim que estou mantendo a meta deste mês. E, para quem está interessado, ainda não desisti dos Cem melhores contos brasileiros do século. Quero dar conta dele nesse mês também, mas a década de setenta tá de matar. Não estou gostando mesmo. Deixemos as futuras resenhas para o futuro

Bom, comecei a ler A Hora Mais Sombria, quarto livro da série A Mediadora (já resenhei os outros três volumes, se te interessou, procura aí no blog), porque o Raphael inventou de fazer um pão na casa da mãe dele. Não sei se vocês sabem, mas tudo que leva fermento biológico demora para ser feito. Entre a massa crescer, ser sovada e assada, deu mais que tempo de terminar. Meg Cabot tem dessas vantagens, é muito fácil demais que só da conta ler.

Gostei bem mais desse livro do que do anterior. Meg deve ter se tocado que o lance estava ficando repetitivo e finalmente contou um pouco mais sobre a história do Jesse, o fantasma gostosão que mora no quarto de Suzannah, protagonista de A Mediadora que vê alma. O surgimento de novos personagens também animou a história, Jack, um garotinho de oito anos, e seu irmão Paul, gatão misterioso, são conectados com as coisas do além e deu um quê de suspense e surpresa.

Nesse volume, Suzanna enfrentará os assassinos de Jesse e terá que lidar com os restos mortais do  rapaz que ela considera o amor da sua vida, ainda que ele esteja morto. Bem legalzim! Não tem muitas piadinhas, mas já tem mais do que o anterior. Eu me diverti particularmente com a subida de Suzannah para o além, quando ela, mesmo indo para o mundo dos mortos, se preocupa apenas com alguém olhando para sua calcinha. E o exorcismo à brasileira sempre me mata de rir.

Renovei meu ânimo para terminar a série. Indico.

Esperando por você

Ai meu pai!
O que foi que aconteceu com o bom e velho romance adolescente? 
Ninguém mais na faixa dos dezesseis anos se preocupa em beijar um cara gatinho, não? 
Será que os adolescentes de hoje estão tão preocupados com os problemas do mundo que não há mais livrinhos aguinha com açúcar com beijo no final?

Sei lá, viu? Que chato esse politicamente correto todo! Que chato esse povo politizado, interessado, atuante, que respeita toda e qualquer diferença e é incapaz de chamar um cara nerd de chato, mesmo se ele for um mala sem alça e sem rodinha! Que chato não encontrar mais livros adolescentes que não tratem de algum distúrbio físico ou emocional!

Não me leve a mal, não dá para negar o valor de um As vantagens de ser invisível ou de A culpa é das estrelas, mas eu detesto essas modinhas. Depois que um gênero entra na moda, o mercado editorial lota as livrarias de repetições e repetições sobre o mesmo tema. Nesse caso, haja sick-lit! 

A bola da vez são as doenças, não é mesmo? Quem olha para essa capa fofinha aí,  tão Meu primeiro amor, imagina uma historinha fofinha entre um carinha nerd e uma menina popular numa cidade de interior. Eles foram amigos na infância, mas cresceram. Ela gosta desse cara. A profundidade de um pires de chá. Beijo fofo no final e pronto.

Bem, Esperando por você vai quase por esse caminho. O problema é que se perde totalmente. Perde-se no caminho da depressão da protagonista. Sério? Depressão? Para quê? Acho que nem a Marisa, a protagonista, entende os motivos da sua ansiedade já que a vida dela é perfeita. Nem feiosa a coitadinha é. Muito classe média sofre para mim, se é que vocês me entendem. 

Aí tem divórcio de pais. Tem término com o namorado gato e gente boa. Tem crise de ciúme. Tem mais depressão. E o amigo de infância? Bem, ele vai aparecer, é claro, mas vai passar boa parte do tempo enxugando as lágrimas sem sentido de Marisa.

Com certeza, muitas adolescentes por aí se identificariam com a Marisa. Não é o meu caso. Tanto minha personalidade não é propensa a depressão, quanto  acho que é quase uma falta de respeito com as pessoas que sofrem desse tipo de distúrbio tratar desse assunto de forma tão leviana, como se qualquer unha quebrada fosse capaz de ativar o gatilho de uma depressão. 

Para mim, faltou pesquisa da autora sobre o assunto. Faltou respeito. E ficou vazio. E o pior, no final, em quinze minutos essa menina resolve o problema dela e tudo volta a ser cor-de-rosa. Me poupe! Como se fosse opção da pessoa ficar deprimida ou não. Quanta bobagem! 

Não indico, mas se você quiser se arriscar...


sábado, 15 de junho de 2013

Comédias para se ler na escola

Eu, sinceramente, acho que deveriam fazer bonequinhos de pelúcia do Veríssimo. Porque, é sério, dá muita vontade de apertar esse fofucho!

Em janeiro deste ano, eu tinha lido Diálogos Impossíveis também dele que o Raphael tinha ganho de amigo secreto. Eu adorei, como, aliás, eu sempre adoro. Comédias para se ler na escola não foi diferente.

Este livro não é inédito. Os textos foram escolhidos por Ana Maria Machado (também escritora) com um propósito, incentivar novos leitores. Ou seja, é um livro feito para ser adotado em escolas. Mas isso está longe de tirar o seu brilho. Os textos são super bem-humorados e, é claro, eu vou usar vários deles nas minhas futuras provas. Meus alunos que se preparem.

Fico sempre impressionada com a capacidade de alguém tão tímido quanto Luís Fernando Veríssimo ter tanto senso de humor. Bom, pelo que eu sei, o cara mal fala. Tenho a impressão de que esse tiozinho fica pelos cantos calados a nos espionar e, no seu mundo próprio, ele recria as situações mais inusitadas para depois as transportar para o papel. Como no conto/crônica em que o filho pergunta se o feminino de sexo é sexa, o pai responde que sexo não tem feminino e começa a confusão porque o menino quer saber se o sexo é igual para homens e mulheres, enfim, uma aula de semântica completa em poucas linhas. O fato é que ele, Veríssimo, sempre consegue me fazer rir muito com coisas absurdamente cotidianas. Situações que poderiam acontecer na minha casa, na sua casa, na casa de qualquer um...

Além de divertidos, os textos de Veríssimo são curtos. Por isso ele é o bam-bam-bam da escola. Hoje em dia, infelizmente, é preciso levar em conta a quantidade de linhas na exposição de textos para alunos, sob o risco de eles fugirem apavorados. Ainda bem que as poucas linhas de Veríssimo parecem não doer tanto.

E temos também a questão da linguagem. Como diz Ana Maria Machado no prefácio, poucos são os escritores que conseguiram colocar no papel tão bem a proposta modernista de uma literatura que mostrasse a nossa realidade de fala aqui no Brasil. Traduzir a fala corriqueira do brasileiro para as linhas não é nem de longe uma tarefa fácil. Nossas pausas, nossos risos, nossa gramática da informalidade. Não basta escrever tal e qual, fica caricato, é preciso adaptar. E o Veríssimo faz isso lindamente. Qualquer diálogo que ele produz poderia estar sendo dito na sua frente em um bar em um boteco aí da sua vizinhança sem mistério nenhum.

Minha admiração por este senhorzinho é imensa. Indico demais todos os textos dele. Espero, sinceramente, que ele continue conosco por muito e muito tempo.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Cinquenta Tons do Sr. Darcy

Certo dia, estava eu na Livraria Cultura esperando por uns amigos quando me deparo com este livro bizarro aí do lado. Eu e meu marido começamos a folhear e caímos na gargalhada. Rimos tanto que até pensei em comprá-lo, mas, como tinha tantas outras coisas para ler, acabei não comprando. Agora, finalmente, chegou a hora de conhecer o lado pervertido do Senhor Darcy.

O livro é uma paródia que mistura Os Cinquenta Tons de Cinza de E.L. James com Orgulho e Preconceito de Jane Austen. Eu achei simplesmente hilário esta mistura inusitada.

Em verdade, não é preciso nem forçar muito a barra para provocar riso. Os Cinquenta tons original é tão absolutamente sem sentido que já é engraçado por natureza. O recato da personagem principal que nunca namorou aos 21 anos. Os pensamentos sem noção e a fala com a deusa interior de Anastacia/Bella. A sua maneira desastrada de cair a todo instante que de repente some quando ela é possuída pelo todo poderoso (lê-se aqui: rico, rico, rico) Christian Gray. A obsessão de Gray em controlar o que a moça come e as perversões sem sentido dele. Enfim, bastou ao autor da paródia (que usa o pseudônimo de Emma Thomas, mas que claramente é um homem), salientar esses pontos e, em alguns casos, conversar com o leitor, afirmando diretamente que estava falado sobre isso. Como quando o autor arranja um balão para simular o passeio de helicóptero que tem no Cinquenta tons original e que não seria possível no século XIX.

Com relação ao sexo, acontece exatamente como no Cinquenta tons original. Muita falação. Muita dúvida e pensamentos delirantes da protagonista. Muita demonstração de artefatos bizarros. Discussões por mensagens entre os personagens. O fatídico contrato que faz as donas de casa ávidas por sacanagem no mundo inteiro suspiraram também está na paródia. Mas cena de sexo só tem uma mesmo.

Olha, foi bem inusitado ver o Senhor Darcy, queridinho das românticas exercendo esse papel. Para falar a verdade, de fato, os dois têm alguma coisa em comum. De cara, percebe-se o dinheiro. Aliás, há livro voltado para o público feminino que o herói não seja rico? Príncipe encantado tem que ter castelo, não é não? Mas, além disso, ambos tem um quê de manipulador, de poderoso e, para uma paródia, a escolha me convenceu. A Lizzie Bennet de Anastacia Steel também deu pano pra manga. Esse lance de ela ser a irmã feia/inteligente deveria ser algo original no tempo de Jane Austen. Sabe aquela feia que é só tirar o óculos e soltar o cabelo que fica linda nos filmes americanos? Pois é, tanto Lizzie Bennet quanto a protagonista de Cinquenta Tons são assim.

Bem, eu achei divertido ler essa paródia. Principalmente porque conheço os dois livros e os gêneros em que se inserem. São, sem sombra de dúvida, livros para mulheres e ver apontados os vícios desses gêneros como numa caricatura foi engraçado. Acho, entretanto, que se você é grande fã de qualquer uma das obras envolvidas, vai talvez se sentir ofendida. 

Também terminei o livro com vontade de ver de novo Orgulho e Preconceito, o filme, porque, como todas as mulheres do mundo, eu também adoro o Senhor Darcy. 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Reunião

Hoje, depois de uma segunda de muito trabalho como presidente de mesa numa das seções para a eleição para diretor na escola em que trabalho, tirei o dia de folga e consigo, enfim, voltar à rotina.

Como estou meio de ressaca depois de tanto estresse e confusão (graças a Deus deu tudo certo e os alunos botaram para correr um passado que não enobrece a instituição), escolhi ler mais um livro da minha série favorita desses dias: A mediadora. E foi assim que cheguei a mais uma aventura de Suzannah e Jesse.

Para mim, foi o mais fraquinho dos três até agora. Começo a entender porque as pessoas dizem que é repetitivo. Bom, foram três livros e três garotos lindos atrás de Suze (fora o fantasma, é claro!). E ela ainda diz que ninguém dá bola pra ela. Me poupe, né?

Além disso, a insensatez da personagem principal está indo por um caminho que não me agrada. Sério? Ir num penhasco abandonado sozinha com um assassino sem avisar a ninguém? Pelo menos, ela foi lá com a intenção de matar o cara, o que a deixou, apesar de bastante estúpida, um pouco mais humana. 

Também não é o livro mais engraçado. As piadinhas são bem menos interessantes e mais raras do que nos dois primeiros, em compensação, os corpos mega-sarados com peitorais salientes que são uma das marcas registradas de Meg Cabot estão por todos os lados. Porém, os meio-irmãos de Suze, uns fofos eles, estão por todas as partes também. Quase vomito um arco-íris quando Soneca chama a mãe dela de "mamãe".

Gostei também da plot. Dessa vez, Suze conta com a ajuda de sua melhor amiga Gina, em visita  a Califórnia, para solucionar um misterioso acidente envolvendo quatro jovens perfeitos de um colégio particular da cidade. Os fantasmas, apesar de esnobes, não são tão escandalosos quanto os anteriores, e, pela primeira vez, vamos ver alguém conversar com fantasmas e tentar uma solução amistosa.

Nesse livro, também, a gente começa a conhecer melhor o passado. Uma namoradinha do padre aqui, uma palavrinha a mais da vidente que previu que Suze era mediadora ali, uma sugestão de que Jesse já possa ter matado alguém... Nada que chame demais a atenção.

Por isso, apesar de divertido e leve, só indico a leitura de Reunião por fazer parte da série. Mas eu poderia viver sem tranquilamente...

terça-feira, 11 de junho de 2013

Dia dos Namorados


Eu já tinha até escrito ontem o post de hoje, daí me lembrei que não tinha mencionado o Dia os Namorados e voltei para escrever esse daqui...

Bem, pode até ser uma data extremamente comercial (meu cartão de crédito também sofreu, se vocês querem mesmo saber), porém, quem é que não gosta de se sentir amado? De se sentir lembrado? De compartilhar momentos de beijinho, carinho, denguinho e todos os outros diminutivos que só os muito apaixonados se permitem? Eu gosto demais. E gosto de presente também (no caso, a coleção capa dura dos livrinhos do Harry Potter).

Nesse climão de paixão no ar, corações e chocolates, resolvi copiar os blogs literários por aí e falar de alguns dos meus casais favoritos da Literatura. E nada de Bella e Edward, porque eu não gostei de Crepúsculo, nem do mais clichê dos clichês que é Romeu e Julieta, nem do par de chifres que ninguém sabe se a Capitu colocou no Bentinho, nem de Katniss e Peeta, porque aquilo lá não é amor, é psicopatológico. 

De modo que ai está o meu Top 10. Veja se você concorda comigo:

10. Aragorn e Arwen - O casal de Senhor dos Anéis é o décimo da minha lista, porque acho lindo a sutileza e a entrega deles. Arwen abre mão da eternidade com os seus (ela é elfa), por alguns instantes da vida do mais doce entre os bravos guerreiros homens. Quando o assunto é imortalidade, acho que a escolha de Arwen é muito mais difícil do que a de Bella.

9. Magri e Crânio - Esses dois personagens são da série Os Karas do Pedro Bandeira que permeou minha infância e início da adolescência. Na verdade, todos os rapazes do grupo de investigadores tinham uma quedinha por Magri, a única menina. Ela, pelo jeito, preferia o Miguel, o líder. Eu, por outro lado, sempre achei que ela deveria ficar com o Crânio, o mais inteligente deles e o mais apaixonado por ela também. Se não me engano, rola até beijo entre eles. Que eu me lembre, ela nunca escolheu nenhum dos Karas, a sacaninha.

8. Hazel e Augustus - O casalzinho de A culpa é das estrelas de John Green leva o oitavo lugar por saber viver. Que importa todos os problemas do mundo? Que importa se vamos todos morrer? O hoje está lindo e é por isso que se chama presente. É isso que eu entendo do amor desses dois. LINDÃO DE MORRER!


7. Senhor Darcy e Lizzie Bennet - Todo mundo adora o Senhor Darcy de Orgulho e Preconceito, vamos combinar? Ele é um fofo. E também, que mulher não quer fazer cagada em cima de cagada igual a Senhorita Elisabeth Bennet e sua "adorável" família e ter um homem desses só resolvendo as pendências, ainda que ele não seja o mais doce dos cavalheiros, não é?

6. Carolina e Augusto - Vocês já sabem que eu tenho um apego grande demais por A Moreninha. Adoro a maneira extremamente boboca de como essa história é conduzida. Romance romântico do Romantismo com todos os elementos de época possíveis. A reviravolta que todo mundo espera no final e tão água com açúcar que diabéticos não podem ler. A-DO-RO!

5.  Peter Pan e Wendy - Não sei se é amor ou relação de mãe e filho, o complexo de Édipo fica subentendido lá pela Terra do Nunca. Mas, o que interessa é que Peter quase desiste do sonho da infância eterna pelo beijo de Wendy. Vamos e convenhamos, não é isso o que é crescer?

4. Lucy e Schroeder - A Lucy é girl power total! Ela não desiste nunca. E quem nunca teve de dar uma apelada para chamar a atenção de um cara que atire a primeira pedra...


3. Rony e Hermione - O que é que se pode dizer desses dois? Olha, nem acho a JK Rowling uma grande escritora no ramo dos amores e romances, mas esses dois são fofos que doem, tanto nos livros quanto nos filmes. Eles tinham que estar no meu pódio. 

2. Han Solo e Leia Organa - Não podia deixar de fora o Badboy espacial Han Solo e a princesa que deixa nerds babando até hoje Leia Organa. O companheiro de Chewbacca e a filha de Darth Vader com suas idas e vindas tornam assistir à Guerra nas Estrelas um bom programa para se fazer com o namorado. Pra quem está pensando que estou trapaceando colocando casais de filmes e não de livros, engana-se, tem livros também. Mas, no caso desta saga, o caminho foi inverso, dos cinemas para as livrarias.



1. Bridget Jones e Mark Darcy - Pensei muito sobre quem deveria ocupar o primeiro lugar deste embate amoroso. Tinha que ser a Bridget e o Mark por todas as suas imperfeições. Porque eles brigam e fazem as pazes. Porque não perdem a oportunidade de rir um da cara do outro. E também porque sempre estão lá quando se precisam. Mesmo que não seja perfeito, eles são perfeitos uma para o outro.




Quanto romance no ar...
Então, se você está aí chupando o dedo: que pena!! 
Fica na companhia desses casais maravilhosos hoje. Vale até tirar o Edward e a Bella da estante, tá? Come um chocolate. Torce pro dia acabar. Julho tá chegando e você tira o atraso de beijar na boca nas férias. E quem sabe? Vai que um grande amor te espera....

Ah! E quais os seus casais literários mais queridos? Deixa pra mim nos comentários. Eu quero saber.

Trecho do capítulo XV de Pra você guardei o amor

Por volta da meia-noite, Milena entrou num quarto preparado especialmente para ela no buffet para trocar de figurino. Depois das fotos, ia usar um tubinho cor-de-rosa muito mais sensual e mais apropriado para dançar o resto da festa inteira.
Ela achou estranho quando a mãe não fora ajudá-la. Ana Maria e Mariana tiveram de distrair bastante Dona Heloísa com problemas dos mais variados para que ela se abstivesse dessa tarefa. Mile trocou de roupa sozinha e subiu o zíper até onde pôde. Quando percebeu que a moça estava quase pronta, apenas dando um retoque na maquiagem, Malu, que acompanhava os movimentos por uma fresta na janela, deu sinal para Vini que cortou a energia. Rapidamente, André deu um jeito para colocar Felipe dentro do quarto sem fazer barulho.
Quando a luz voltou segundos depois, Felipe estava em pé na porta do quarto, de smoking, com uma mão no bolso e a outra segurando um ramalhete de rosas cor-de-rosa. Lindo.
─ Feliz aniversário, minha princesa!
A voz de Felipe era o único presente que ela queria ganhar. Milena se levantou e foi em direção a ele tentando segurar seu coração que dava saltos dentro do peito querendo sair. Aquela chance ela não iria desperdiçar. Mile se apoiou na pontinha dos pés para alcançar o ouvido de Felipe e sussurrou:
─ Me dá um beijo, Lipe?
Felipe delirava de prazer ouvindo aquilo. Ele estava preparado para levar outro fora. Submetera-se a todos os artifícios de Ana Maria sem acreditar que surtiria efeito. Esperava encontrar Milena e Bernardo juntos, mas mesmo assim viera porque precisava vê-la. Precisava dar uma boa olhada naqueles olhos incompreensíveis de Milena de novo, tentar desvendar o mistério. A ajuda dos amigos fez surgir uma esperança.
Quando Milena pediu um beijo, teve de forçar seu coração a bater de novo. O mundo parou repentinamente. E se não fosse a vontade maior ainda de tê-la nos braços, nunca mais moveria nada só para continuar vivendo esse momento pela eternidade.
Aproveitou a proximidade com o pescoço dela e lhe deu um beijo perto da orelha que deixou a ambos arrepiados. Milena suspirou de olhos fechados. Com uma paciência que vinha sabe-se lá de onde, Felipe fez a volta em torno dela e com a mão grande fez um carinho nas suas costas antes de fechar o restante do zíper do vestido. Ela estremeceu.
Ele colocou o ramalhete sobre a cama e subiu as duas mãos quentes pelos braços de Milena enquanto continuava a beijar-lhe o pescoço. A respirar seu perfume como um viciado que se entrega à droga favorita. Milena, sem mover um músculo, não aguentava mais e pediu:
─ Por favor, Lipe, eu imploro... Me beija?

O rapaz a fez virar e a abraçou forte antes de delicadamente tocar seus lábios. Foi Milena que o agarrou por completo, afoita de matar uma saudade com a qual ela lutou muito para que não existisse. O sentimento vencera a batalha. Eles sempre vencem. E agora ela estava perdida, perdida de amor. Por outro lado, nunca tivera tanta certeza de estar no lugar certo com a pessoa certa. Felipe entrara no seu coração para ficar e era melhor admitir logo isso.

sábado, 8 de junho de 2013

Toda Poesia - Paulo Leminski

Estou apaixonada por Leminski. Constatei diante destes versos:

mesmo 
na idade 
de virar
eu mesmo

ainda
confundo
felicidade
com este
nervosismo

Ai Caramba! Como faz pra ser assim tão simples e assim tão complexo nesses 13 vocábulos? 
Ele me ganhou, me arrastou por cada linha, me encantou e agora já não vejo minha vida sem Leminski. Já pensei em mil questões para minhas próximas provas lá no trabalho.Vou instituir a questão Leminski em todas elas. Todos nós precisamos de um pouco de contrários: simples e complexo, pop e erudito, rigor e emoção. E esse Curitibano é tudo isso e mais um pouco.

Vou contar minha história com esse livro. Como alguns de vocês já sabem, eu não sou muito fã de poesia, mas, por questões de trabalho, vez ou outra leio alguma coisa. Bem, eu conhecia pouco sobre Paulo Leminski. Aliás, a década de 70 para mim, em termos de literatura, é toda meio nebulosa. Na faculdade, não lembro muito de focarmos nela. Em todo caso, Leminski para mim era apenas um cara polêmico com alguns poemas concretos em livros didáticos e era adepto dos haikais japoneses (poemas de três versos de origem oriental). 

Aí, saiu essa nova edição de suas obras. Bom, a capa é linda. Vamos combinar que esse laranjão berrante e o bigodão estão simplesmente o máximo! Vai ficar um luxo na minha estante. Minha mãe, inclusive, acha que eu comprei o livro somente pela capa, mas não é verdade. Até porque, não é por nada não, mas o preço do livrinho é bem salgadinho. Eu não ia comprá-lo tão cedo. Só que, dia desses, estava eu assistindo ao GNT e vi uma entrevista com a Maitê Proença sobre o que ela estava lendo para a produção do seu novo livro.

Fazendo um parêntesis aqui: ADORO a Maitê! Acho-a uma mulher belíssima e, definitivamente, não por causa dos seus olhos azuis estonteantes, mas por conta de que é tão inteligente que reluz. Ela é tão grandiosa que imagino o esforço que faz para caber na grade de programação da Rede Globo. Pois bem, dentre muitos livros, Maitê mostrou esse daí e eu decidi que deveria tê-lo. 

Foi o livro mais caro do mês, com o frete: R$40,00, mas não me arrependi. O livro me surpreendeu e eu não consegui parar de virar as páginas. Tem poemas lindos. Tem poemas bobos. O poeta vai e volta e brinca com seus sentidos como um ioiô. As palavras vão do cotidiano ao psicanalítico mais brabo em questão de instantes. A mente às vezes sofre para dar uma lógica, ao mesmo tempo que a razão está lá o tempo todo, mas é tão simples que você se força a não compreender de primeira. Incrível! E os poemas concretos são um deleite para os olhos e para a alma. 

Claro, nem tudo é maravilhoso, tem uns poemas apenas sem graça, mas são poucos. A coletânea como um todo está lindona. Eu nem sabia que tinha que ter esse livro. Obrigada, Maitê. A criatividade de Leminski me pegou de jeito. E eu estou completamente apaixonada por ele.

não sou o silêncio
que quer dizer palavras
ou bater palmas
pras performances do acaso

sou um rio de palavras
peço um minuto de silêncios
pausas valsas calmas penadas
e um pouco de esquecimento

apenas um e eu posso deixar o espaço
e estrelar este teatro
que se chama tempo

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Tempo de mudança...


Só esclarecendo que não abandonei o blog... Ontem, por exemplo, eu quase escrevi, mas refleti melhor e não o fiz. Não escrevi porque eu ia acabar me estendendo demais em questões políticas nada literárias e eu estava zangada. Nessas horas, é melhor respirar, contar até dez e se acalmar. Agora, com a cabeça fria, vou dar uma explicação para o que foi a minha semana.

A semana foi de cão. Começou a campanha para diretor na escola em que trabalho. Nossa, que triste ver que as pessoas, em tantas escolas estaduais, querem currais eleitorais, manutenção de poder, status, enfim, tudo, menos a questão pedagógica está envolvida. A eleição para diretor é uma cópia fiel das nossas eleições municipais. E eu tenho nojo de onde se é capaz de chegar para se conseguir o que se quer. Ouvi tanta mentira deslavada esta semana que eu, que pretendia ficar neutra e confiar na clareza da exposição dos candidatos e no discernimento dos alunos, estou tomando partido, principalmente para me defender. 

Meus alunos, cientes do meu trabalho, ficam indignados ao ouvir que os professores se recusam a participar dos projetos da escola por despeito a gestão atual. Bem, no que me diz respeito, meu projeto de festivais do terceiro ano foi cancelado porque a gestão, como fez questão de enfatizar: quer AULA MESMO. Então, meu projeto, por envolver música, refacção textual, compreensão do gênero canção, e mais, por envolver alunos tantas vezes desestimulados do último ano, não é aula mesmo. Ouvi, inclusive, que os temas escolhidos são irrelevantes para a aprendizagem: bom, o tema deste semestre era Raul Seixas, que pode até não ser um exemplo moral, mas jamais alguém, alguém com o mínimo de conhecimento na área cultural, vai poder dizer que é uma escolha irrelevante.

Assim como o meu projeto, vários outros projetos de amigos "perigosos" foram cancelados. Nós, professores, dávamos aula de graça aos sábados para nossos vestibulandos. Esse projeto foi vetado este ano. Não sei o motivo alegado, provavelmente, deve ser porque as aulas do sábado também não eram AULAS MESMO. Quem vai saber?

Aliás, os mesmos professores que tantas vezes deram aulas sem remuneração, que criaram o LiceuVest, estão sendo acusados de serem responsáveis pelas notas do SPAECE que caíram. Veja se isso tem lógica? 

Gente, que coisa feia!

No meu caso, eu acho que nem preciso dizer nada, mas vou dizer. Eu dou aula! E é uma senhora aula, tá? Não haverá aluno meu que diga o contrário. Nos corredores, ainda tiro dúvida e corrijo redação de meninos que nem são mais meus alunos. Eu sou professora porque quero e não estou numa sala de aula sem saber o que fazer. Eu planejo. Eu aplico. E mais, eu estimulo o amor pela língua. 

Enfim, mas muitos são os fatores que interferem nessa nota do SPAECE. Um dos que eu acho relevante é a motivação. Motivação que só surge com organização e esclarecimento. Boa parte dos meus alunos nem sequer sabe para que serve o SPAECE. Nós falamos em sala de aula, mas não é suficiente, é necessário mobilização da escola como um todo para mostrar a relevância do processo. A escola não se mobiliza em prol da "aula mesmo" (seja lá o que isto signifique na cabeça desse povo) e também por causa da desorganização constante que faz parecer que tudo que lá acontece é uma surpresa. Os jogos são de surpresa. Se vai ter gincana é uma surpresa. A premiação dos melhores trabalhos dos seminários é uma surpresa. A data da Feira das Profissões é uma surpresa. Se vai ter obmep é surpresa. Se tem prova no sábado é surpresa. Desde que lá estou, a coisa mais difícil é uma coisa simples: um calendário escolar! Mas a culpa é dos professores...

Vocês compreendem a minha raiva?
É melhor respirar mesmo...

Principalmente, porque os dados do SPAECE caíram, mas a escola recebeu uma placa por ser a escola com maior aprovação nos vestibulares de toda a CREDE 01. Mais do que receber a placa, meu coração exulta de alegria pela conquista de vocês, queridos. Apesar do que possam dizer os outros, esse é o maior presente que vocês nos dão. Porque somos nós, dentro das salas de aula, com a motivação correta, o esclarecimento, o acompanhamento diário, que fizemos este número. E isto basta.

Não vou nem falar da conversa de maluco de que os professores estão roubando. Isso me ofende e ofende vocês. Qualquer pessoa, em sua capacidade mental intacta, sabe que os professores não têm acesso ao dinheiro que é mandado para a escola. Quem quiser ir em papo de pirado, que vá.

Então, para encerrar esse post desabafo, tem um boato circulando pela escola de que os professores vão sair dependendo da eleição. Não posso falar pelos meus amigos, falo por mim. Se esse tipo de coisa continuar a acontecer, se a mudança não vier, eu não vejo um lugar para mim dentro da escola. Minha visão de educação é dinâmica. Eu preciso de muito mais do que a chamada AULA MESMO. Preciso de festivais, de jogos, de vídeos, de semanas temáticas com temas transversais, de participação de aluno na construção do conhecimento. Quero um menino que vá para biblioteca porque quer ler, não porque foi mandado de castigo para fazer tarefa. E, pra começar, quero uma biblioteca real! 

Entendo que tudo que eu faço tem uma vertente pedagógica, mas a visão atual parece não compreender ou aceitar isso. Se assim o for, eu não me encaixo no projeto pedagógico desta instituição. Como funcionária do estado, devo procurar uma escola que tenha um projeto mais coerente com minha forma de pensar.

Meus queridos alunos, esse post é para vocês. Muito tem se dito sobre a VERDADE. Bem, isto é o que acontece comigo. Esses são os meus fatos e a minha verdade compartilhada com vocês em sala de aula. Então, votem consciente. E saibam que estarão decidindo o que acontecerá com uma grande escola, que pode permanecer no passado ou pode enfrentar com a melhor equipe do mundo o futuro.



segunda-feira, 3 de junho de 2013

Jogos Vorazes

Por incrível que possa parecer, já que ando lendo tanto nesses dias, eu nunca tinha lido o tão falado Jogos Vorazes. Mas hoje, com Eragon passeando para lá e para cá nas minhas mãos sem que eu estivesse no menor clima para lê-lo, liguei o meu tablet novo (presente do Governo do Estado do Ceará) e resolvi ver como seria a questão da leitura nele. Apostei no Best-seller de Suzanne Collins e deu muito certo, li o danadinho de cabo a rabo em um único dia.

Com relação a ler no tablet, bom, achei legal. Eu leio pelo computador sem o menor problema desde que fiz pós-graduação, seria impossível graduar-se sem esse tipo de habilidade. Portanto, o tablete não foi tão diferente assim. Porém, confesso, achei que o aparelho seria mais leve de segurar. Chegou a cansar minhas mãozinhas, mesmo assim, acho que deve ser um excelente ferramenta para um voo, por exemplo.

Quanto ao livro, muito bom. Muito bom mesmo! Não imaginava encontrar uma escritora tão boa, tão consciente. Sabe, sou preconceituosa com as escolhas do grande público, em geral, as massas adoram tudo que a sociedade de consumo aponta. Aliás, este é um tema abordado maravilhosamente bem por Jogos Vorazes.  Acho que nem sempre os grandes campeões de venda apresentam alguma qualidade literária. Mas este não é o caso deste livro. Não mesmo.

Estou até com medo de ler o restante da trilogia. Acho que é capaz de  autora perder o ponto do negócio. Porque o livro inicial é completo. Para quem não conhece a história, trata-se de uma distopia, um universo caótico. As pessoas passam fome em seus distritos, enquanto as pessoas na capital se divertem com um reality show. E como funciona este show? Dois jovens de cada distrito são trazidos à capital para lutarem até a morte numa arena.

Katniss, a protagonista, precisa usar de todas as suas habilidades de caça e ainda usar de esperteza para manipular a audiência em seu favor, fingindo, inclusive, um romance com seu colega de distrito Peeta. Adorei a Katniss, não sei se vou continuar a gostar dela, talvez não se a autora mudá-la ao longo da narrativa, mas simplesmente amo o fato de que ela não ama o Peeta desesperadamente. Que ela é capaz de fingir, assim como é capaz de matar, ambos por bons motivos: sobreviver e salvar sua família. O resto é resto diante disso. Eu faria o mesmo.

Gostei também no papel que a moda exerce nesse enredo. Aliás, é um livro interessante para trabalhar a questão da imagem como um todo. Afinal, valemos pelo que somos de fato ou por aquilo que parecemos ser? Jogos Vorazes me faz pensar que não adianta nada sermos pessoas boas, ou termos caráter, se outras pessoas não conseguem ver isso. Talvez, seja melhor fingir como a Katniss e esperar os aplausos da audiência.

De maneira nenhuma esperava que este livro fosse me levar a pensar. Eu imaginava sequências e mais sequências de ação. O livro tem boas cenas de ação e o filme deve ser bem bom também. Vou tentar assisti-lhe em breve. Porém, é um livro, que apesar de claramente voltado para jovens, nos dá muito pano para manga para questionar o consumo e a lavagem cerebral diária que a mídia nos apresenta. Enfim, muito bom demais que só além da conta!

Só não gostei das cenas de pobreza estilo Charles Dickens. Haja miséria fajuta para Katniss e sua família. Às vezes, os autores ressaltam tanto as cores da pobreza que elas acabam soando falsas. Gente falando de pobreza sem conhecer pobreza. É uma tristeza só. E nós brasileiros sabemos por experiência que não é bem assim. Gente pobre é mais feliz ainda. Tira alegria de pedra se for preciso (infelizmente, até da pedra branca eles tiram, mas tiram). Sou contra essa melancolia dos personagens pobres desses livros distópicos. Não me convence de jeito nenhum. 

Mesmo assim, indico demais. Vou criar coragem e ler os outros dois qualquer dia desses. Por favor, se já leu, não me conta nada!