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sexta-feira, 8 de março de 2013

Trecho do capítulo III de All Star




Vinícios chegou de viagem e foi direto procurar pelo melhor amigo. Passara a virada de ano com Maria Lúcia numa praia distante. A primeira viagem que faziam sozinhos como namorados. Talvez, fosse também a última.
Ele contou para André que Malu aceitara a bolsa de estudos daquela universidade americana. Era uma bolsa de um ano, mas sabia que ela não voltaria mais tão cedo. Quando o pessoal percebesse efetivamente do que ela era capaz, ficaria por lá de vez.
Vini estava arrasado. Por um lado, era desesperadamente apaixonado por aquela garota. Não conseguiria mais sequer respirar sem a presença dela. Por outro lado, sabia que eram ainda muito jovens. Ele não pretendia ser o cara que iria impedir Maria Lúcia de realizar todos os seus sonhos profissionais. Chegaram num impasse.
─ Por que você não vai com ela, cara? – André perguntou tentando encontrar uma forma de consolar o amigo.
─ Deco, isso não daria certo. – Passava as mãos pelos cabelos. – Lá no fundo, cara, eu sei que está na hora de dizer tchau. De deixar ela viver a vida dela. De crescer um pouco, sabe? – Andava de um lado para o outro do quarto do amigo como um bicho enjaulado. – Eu só não consigo fazer isso. Minha vontade é correr até lá e implorar para que ela fique. Pedi-la em casamento. Sei lá! Qualquer coisa que a impeça de ir para longe de mim...
─ E você não vai fazer nada mesmo? Vai ficar aí parado vendo ela partir? Nem parece você.
─ Eu vou, Deco. Não sei como vou conseguir assistir a esse espetáculo sem fazer nada. Mas vou. Vou porque é a coisa certa a se fazer. Vou porque ela precisa desse tempo e eu, por mais que não admita, também preciso saber como será a minha vida sem a Malu.
─ Não vai nem tentar um relacionamento à distância?
─ E isso tem alguma chance de funcionar, Deco? – Balançava a cabeça em desespero. – Você pensa que não pensei nisso? Que ela não me propôs isso? Eu recusei, claro. Prefiro que ela saia daqui livre do que empenhar meu coração numa relação e daqui a dois meses receber um e-mail dizendo que tudo acabou. Encontrar fotos nas redes sociais dela com outro cara. Prefiro encarar o problema de frente. Nossa história não merece esse final.
─ He, irmãozinho! Nós somos mesmo muito diferentes... – Abraçou o amigo tentando passar um pouco de conforto. Ficaram abraçados por um tempo olhando a janela como se dali pudesse vir alguma resposta para o problema, até que Vini continuou.
─ E você, Deco? Como está o lance com a Mari? Já resolveu alguma coisa?
André se soltou do abraço e se jogou na cama visivelmente aborrecido. Esse assunto o perturbava. Principalmente porque agora tinha muita gente sabendo. Vinícios e Milena acompanhavam sua vida sentimental como quem assiste a uma novela. Toda semana, queriam um novo clímax. E ele tinha seu próprio jeito de lidar com o assunto. Conheciam-se muito bem. Ele sabia que precisava mudar algumas ideias na cabeça dela antes de qualquer outra coisa.
─ Continuamos na mesma. Ou quase... – Foi o que disse depois que o amigo ficou insistindo com o olhar para que ele dissesse algo.
─ Como assim, cara? Você falou com ela? – Vini também o conhecia muito, sabia como arrancar informações daquela cabeça teimosa.
─ Falei. – Fez que sim com a cabeça. – Falei e beijei.
─ Beijou? – Vini fez cara de surpresa. Não esperava que o teimoso do amigo fosse logo partir para os finalmente. Imaginava que em algum lugar André ainda conseguisse ter dúvidas se gostava ou não de Mariana. – E aí?
─ Aí eu disse que queria ficar com ela...
─ Ficar? Tipo: uma noite? – Pronto. Voltaram ao mesmo ponto. André queria agir com Mariana como fazia com qualquer uma. Ainda não tomara consciência de que estava completamente apaixonado.
─ Cara, sei lá se entre eu e a Pequena vai dar certo...
─ André, pelo amor de Deus, o que é que falta para você se convencer?
─ Ah, Vini! Nem vem com esse papo. Você só me deixa mais confuso. – Sua vontade era sair do quarto. Não queria discutir com o amigo coisas que ele nem conseguiria entender. Não queria mentir, não para ele, mas na atual conjectura, tornara-se necessário. – Eu ainda não sei direito o que é isso que eu sinto pela Pequena, mas eu pretendo descobrir, certo? E eu vou fazer isso do meu jeito. No meu tempo.
Vini não insistiu mais. André, desde criança, tinha esses lances. Estruturava muito bem um plano de combate. Estudava o adversário. Preparava o terreno. Fazia as alianças certas. Depois, atacava. Era o eterno campeão das partidas de War. Enfim, era um tremendo manipulador. Um político.
Aprendera nesses anos de convivência que a situação que ele estava vendo, deveria ser a ponta do iceberg. Deco, provavelmente, já tinha traçado uma estratégia coerente. Apenas não gostaria de revelar o plano. Mesmo assim, gostava de perturbá-lo, portanto, continuou o assunto pela parte que sabia que iria incomodá-lo mais.
─ E o modelo internacional que ela namora? Você vai fazer o que com ele?
─ Nem me fala desse idiota. Foi por causa dele que ela não quis ficar comigo no Réveillon. Aquele cara é um atraso. Um atraso enorme.
─ Enorme, loiro, olhos azuis, abdômen definido...
─ Ha ha ha – Foi sarcástico. – Você é meu amigo ou dele?
─ Não resisti. – Deu uma risada gostosa. – Você não vai negar que o cara é bonito, vai?
─ Bonito sou eu, Vini. O idiota é lindo. – Vini deu outra risada da cara feia do amigo. Era bom se distrair um pouco dos seus próprios problemas. – Mas não se preocupe. Ela não vai aguentar mais muito tempo com ele. O cara não é nem complicado, nem inteligente, nem esquisito. A Pequena não vai suportar tanta mediocridade assim...
─ Sabe lá que argumentos ele usa na cama... – Provocou. – Você não acha que a Mariana seja virgem, acha? Não acha que eles estão namorando, com anel de compromisso no dedo e não fizeram nada ainda, acha?
─ Quer me matar, Vini? – Disse muito indignado. – Atira, então, por favor. Mas não fica me torturando. – Ambos deram risada ao mesmo tempo. – E quem é você para falar alguma coisa? – Ele também sabia provocar. – Vai me dizer que também não está esperando pela sua namorada com muita paciência e banho frio?
─ Ah! Aí é que você se engana. – Brincou, feliz como uma criança. – Essa viagem foi, digamos, especial para nós dois...
─ Não acredito. Sério? Vocês? – Olhava incrédulo para o amigo que apenas confirmava com a cabeça. – E como foi, cara?
─ Nossa, meu amigo, foi perfeito. Melhor coisa do mundo. Valeu cada segundo de espera. – Vini era cavalheiro o suficiente para não falar de detalhes. Porém, a amizade deles permitia algum tipo de intimidade. – Acho que você também deve esperar o tempo que for preciso...
─ De jeito nenhum. Tô longe de ser você, príncipe encantado. – Jogou um travesseiro no amigo feliz. – Além do mais, sei que ela não é mais virgem. Ela me disse que não era.
─ Tem certeza, Deco? Ela é tão novinha?
─ Como é que eu posso ter certeza disso, mané? Claro que eu não tenho certeza absoluta. Mas foi ela mesma quem me disse. Pode estar mentindo, sei lá. Também não interessa. Não enquanto ela estiver com o babaca do Guilherme, prefiro nem pensar...

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