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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

RELICÁRIO




Era uma vez um menino bonito que gostava de vídeo game. Na verdade, ele gostava de quase todo tipo de jogo. Seus olhinhos infantis brilhavam nas disputas de Banco Imobiliário e nem piscavam nos lances de dados do War. Logo tornou-se um exímio jogador. Os amigos sempre o queriam em suas equipes. Exercia uma liderança natural nas brincadeiras e, mesmo com sua cabeça de criança, era um estrategista nato. O nome desse menino era André.
Na exata medida em que foi crescendo, foi percebendo o que o atraía tanto nos jogos. Há quem goste de jogar por causa do poder. Há quem goste de vencer sempre. Não era o caso do menino, o que o atraía no jogo era o jogo. Era conhecer as regras e manipulá-las ao seu favor. Era mexer com as pessoas, era usar o potencial de cada um para conseguir o seu objetivo. Enfim, André nasceu político.
Ele nunca deixou de jogar. Mas, no começo da adolescência, como um super-herói que aprende a voar, descobriu que poderia usar os seus poderes para atividades muito mais complexas do que joguinhos de tabuleiro. André descobriu que se relacionar com o sexo oposto é o jogo mais complicado de todos. Por isso mesmo, ele adorou a brincadeira.
As meninas tinham regras demais: pagar a conta, reparar no cabelo, nunca chamar de gorda, telefonar no dia seguinte, ter pegada. Percebeu logo que a maioria dessas regras sequer funcionava. Os outros garotos não entendiam, ele achava que aquilo tornava o jogo mais dinâmico e sedutor. Observou, traçou estratégias, organizou seus exércitos.
Tinha a seu favor o fato de que não era feio, aliás, podia se considerar um carinha bem bonito até. Ele sempre foi bom em fazer julgamentos e a humildade nesse momento não lhe seria favorável. Pelo que já entendia das mulheres, humildade era uma das coisas que não funcionava. Em compensação, autoconfiança era um ótimo trunfo. Assim como a educação, o sorriso e a sensibilidade.
Por tudo isso, no auge de seus catorze anos, André estava pronto para entrar no mundo das meninas pela porta da frente. Estava pronto para fazer conquistas no território do amor. Estava pronto para se tornar o novo galã do colégio.
Estaria tudo ótimo, não fosse por Mariana.
Mariana era a aleatoriedade em pessoa. Se a maioria das regras para as mulheres não funcionava, Mariana simplesmente não tinha regra nenhuma. Às vezes, argumentava até a exaustão. Em outros casos, chorava, esperneava, mordia e chutava. E ele simplesmente não compreendia. Tentava encontrar o padrão nas sardas do seu rosto. Na sua maneira de agir. Tentava usar aquela força toda a seu favor. Era tudo esforço inútil. Mariana, na sua meninice, era incompreensível.
Mariana era a amiga de infância. Melhor amiga da irmã dele, mas com quem ele adorava brincar e implicar com tudo e sobre tudo. Mais nova que ele três anos, ainda assim, davam-se muito bem. Vini era seu grande companheiro, mas Mariana era a sua pessoa favorita no mundo. Tinham tudo em comum, gostavam dos mesmos livros, dos mesmos desenhos, dos mesmos personagens e até do mesmo tipo de música e de comida. Viveram tantas coisas juntos. E era só ela, naquela imprevisibilidade toda dela, que era capaz de dar sentido a tudo que faziam. A primeira vez que comeram bolo de cenoura com cobertura de chocolate. A primeira vez que jogaram Playstation. A primeira vez que leram a série Harry Potter.
Portanto, se ele ia se tornar um rapaz, que o rito de passagem fosse com ela. O primeiro beijo era muito importante, muito definitivo. O seu primeiro beijo teria de ser de Mariana. Mas não seria fácil conseguir isso, porque ele era quase um rapaz e ela era de fato uma menina. André racionalizava como sempre, gerenciava estratégias, escolhia os melhores planos e não chegava à conclusão nenhuma. Afinal, seria justo estragar a inocência dela? Ela que nem ligava para garotos ainda.
A sociedade machista já lhe cobrava uma posição. Todos os seus colegas diziam que beijavam, embora soubesse que boa parte deles mentia, sabia que estava na hora. As meninas davam em cima dele. Estava ficando sem desculpas. Foi então que ele percebeu que a sua irmã, da mesma idade de Mariana, andava suspirando e piscando os olhinhos para o seu melhor amigo. Agradeceu a Deus o fato de que as meninas amadurecem antes. A hora chegara.
Organizar o jogo de Pera, Uva, Maçã ou Salada Mista foi a parte mais fácil. Bastou uma sugestão aqui. Uma indicação acolá. Seus amigos eram adolescentes no auge da ebulição dos hormônios. Eles adoraram a ideia. Proibir a irmã de participar foi o golpe de mestre. Milena insistiu, perturbou, encheu o saco e convenceu Mariana a participar junto com ela, a presença da amiga diminuía sua chance de levar uma bronca. Verdade que seus amigos adoraram que mais meninas participassem da brincadeira. Principalmente, a sua irmã, tão linda que já fazia os olhares masculinos virarem quando ela passava.
A parte difícil do processo foi controlar o nervosismo. Era um cara equilibrado, um estrategista, mas era complicado, daria seu primeiro beijo, ora bolas. A cada rodada seu coração acelerava, na sua vez, estava completamente disparado. Inventou uma desculpa para Vini. Em geral, não precisava trapacear, mas esse era um caso especial. Não podia perder essa chance. Vinícios era um grande amigo, não discutiu as instruções e quando ele apertou forte, sem controlar a emoção, André disse o nome dela em alto e bom som: Mariana.
Os segundos em que se olharam antes do beijo com tanto medo, com tanto nervosismo, com tanta insegurança, vão ficar para sempre impressos na sua alma. Falou alguma besteira para Ana Maria, algo sobre um cronômetro. Fazia parte da brincadeira e ele não queria demonstrar que aquilo era tão mais importante do que um dos jogos que costumavam jogar, mas era. Depois, ele tomou a iniciativa e os lábios se tocaram.
Totalmente eletrizante. André ainda não sabia o que era aquilo. Talvez, esteja procurando saber até agora. Por menos de um segundo, pensou que ela fosse desistir. Provavelmente, seria a atitude mais previsível. Ela era tão menina. Menina sim, mas previsível não. Depois daquele instante, Mariana correspondeu ao beijo. Treze minutos inesquecíveis. Uma lembrança para a vida inteira.
Ele estava certo mais uma vez, mais uma jogada de mestre. E agora tinha a certeza absoluta disso, seu primeiro beijo só poderia ter sido com ela mesmo. Pois era somente ela que dava sentido a qualquer coisa que experimentavam juntos.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Trecho do Capítulo III de Do Seu Lado




A partir daquele dia, Ana Maria se tornou figura constante, ela não perdeu a esperança de conquistar Antonio, embora soubesse que para isso acontecer, a outra deveria colocar suas intenções em pratos limpos. Achava que valia a pena correr o risco, uma vez que podia não saber muito sobre Malu, mas sabia que não era boa em identificar caras legais com os quatro pneus arriados por ela.
Assim, sempre que Malu e Antonio estavam na piscina, ela chegava. Se iam à praia, ela perguntava se poderia ir junto, reclamava de falta de companhia, mas seu telefone tocava de instante em instante convidando para milhares de programas.
Vez em quando, aparecia algum convidado de Ana Maria para completar o passeio: Fabiana, Carolina, Ingrid e até o Júlio César que gostava demais da Madonna. Aquilo começou a incomodar Maria Lúcia, nada contra Ana Maria, gostava do jeito dela conversar e os programas realmente ficavam mais divertidos com mais gente, porém, chegaria o dia em que o convidado seria desagradável.
Foram à praia e Antonio convidou Malu para uma partida de frescobol. Ana Maria ficou na barraca com Ingrid e Júlio César, os três faziam ohs e ahs para cada movimento da raquete de Antonio. Malu achava aquilo tudo um pouco mais ridículo do que precisava ser. Mas tudo bem, acreditava que Antonio deveria ser o assunto das férias da galera do colégio, então, ele poderia vomitar no cabelo de uma daquelas ali que mesmo assim seria considerado o máximo.
– Alô. – Malu ouviu Ana Maria atender pela milionésima vez ao telefone – Chegou, amor? Finalmente. Pensei que tinha esquecido minha pessoa de vez... – sorrisos, provavelmente a pessoa do outro lado dizia coisas engraçadas – Ah! Você nem vai acreditar onde estou, ou melhor, com quem estou...
– Principessa, andiamo al mare...[1] – Antonio largou raquetes perto da barraca e agarrou Malu a puxando para água e arrancando mais uma onda de ohs e ahs das meninas.
– Claro que pode, deve, aliás. Estamos aqui na Sol e Mar, sabe qual é? Não, criatura, é aquela perto do começo... – Ana Maria continuava ao telefone.
O mar estava tranquilo e Antonio apostou uma corrida até a boia dos salva-vidas a certo ponto no mar. Surpreendeu-se ao ver que não precisaria dar vantagem a Malu, ela nadava melhor que ele, mesmo com a força das ondas. Chegaram à boia ofegantes e sorrindo.
– Tu sei veramente bella, mia sorella. Non lo so come li ragazzi non te hanno datto un baccio.[2]
A estas alturas, Malu já entendia um pò de italiano, mas ainda preferia quando Antonio falava em inglês, porque na sua língua mãe, apesar de soar belíssimo, Antonio falava rápido demais.
Ela tomou fôlego e começou o caminho de volta com Antonio logo atrás. Só pararam na praia. Deitaram de costas na areia, um ao lado do outro, bem a borda do mar. Ficaram nesta posição por um bom tempo, olhando duas pipas brincando no céu.
De repente, Antonio virou e ficou em cima dela, sustentando seu peso apenas nos dois braços. Ficou daquele jeito, olhando fixamente nos olhos dela, sorrindo com a maior cara de pau, ela sorria de volta e ele se aproximava mais um pouco. Estavam tão próximos que Ana Maria, Ingrid e Júlio César se levantaram das cadeiras para ver melhor o que acontecia na beira da praia.
Nessa hora chega Vinícios, André, Angélica, Bruno e Gustavo. André foi logo cumprimentando as meninas e tirando os chinelos. Vinícios teve seu olhar sugado para a cena na beira do mar, seu corpo estremeceu inteiro. Antonio, de tão perto que estava do corpo de Malu, apoiava-se apenas em um cotovelo, passou a mão pelo cabelo que já encostava no rosto da menina.
– Principessa... – colocou a mão grande no rosto dela.
Malu o empurrou com força e ele caiu com as costas na areia. Levantando as mãos para o céu gesticulando.
– Why? Why? I just wanna kiss you! What’s the problem whith this?[3]
Ela saiu correndo em direção à barraca. Não sabia se estava zangada ou sequer se gostaria ou não de ganhar um beijo de Antonio. Era tudo bastante confuso. Antonio levantou logo depois e a alcançou no meio da corrida. Ele a segurou e forçou um longo beijo em seu rosto provando a seu modo que se ela não queria, continuavam amigos.
Pegou Maria Lúcia no colo e a carregava para tomar uma ducha de água doce antes de voltarem à barraca.
– Ana Maria Norões Fraga, você sabia disso? – Vinícios fulminou a amiga com o olhar.
– Receio que sim... – ele falava tão sério que ela respondia temerosa.
– Há quanto tempo?
– Pouco tempo... Dias...
– E consegue encontrar um motivo para não ter me dito nada antes?
– Calma, Vini. Relaxa um pouco. – André batia nas costas do amigo – Você chegou ontem de viagem... Ainda tem muito tempo de férias para você tirar o couro dessa pobre coitada por conta desse namoradinho novo...
– Não se trata disso... – Vini falou baixo, quase que somente para ele mesmo. Ana Maria sabia o que se passava no interior do amigo.



[1] Princesa, vamos ao mar...
[2] Você é realmente bonita, minha irmã. Não sei como os rapazes não te deram um beijo.
[3] Por que? Por que? Eu só quero te beijar. Qual é o problema com isso?

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Outra cena linda!!

Estou apaixonada pelo terceiro livro. Gente, não vejo a hora de partilhar isso com vcs...
Inspiração de hj:

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Rosa e Túmulo


Rosa & Túmulo é o primeiro livro dessa série chamada Sociedade Secreta da Diana Peterfreund. Essa autora, por si só, já é digna de menção honrosa. Afinal, não é qualquer uma que escreve livros sobre unicórnios letais que devem ser mortos por virgens que descendem de Alexandre, o Grande. É sério. É uma série grande até, são vários títulos. Olha lá: http://www.dianapeterfreund.com/books (em inglês).
Mas este livro não é sobre unicórnios. Haaaaaaaa.... (Suspiro de decepção)
Em verdade, Rosa & Túmulo é uma daquelas fraternidades de faculdade americana. E a protagonista é convocada a participar, mas fica confusa, dentre outras coisas bizarras, porque esta fraternidade em específico só chamava garotos.
A Rosa & Túmulo é uma sociedade secreta não tão secreta assim, afinal, seus membros, por gerações, são pessoas influentes, políticos, artistas, milionários. Amy, a protagonista, não sabe bem ao certo porque motivo ela foi convocada visto que não se encaixa em nenhum desses padrões. Além disso, para ela é muito esquisito conviver com a importância que algumas pessoas dão às bobagens da fraternidade, como não poder mencionar que é da fraternidade, por exemplo.
Os coveiros, como são chamados os membros, têm centenas de rituais. Nada macabro ou sinistro, mais coisa de gente desocupada, como aperto de mão, batida na porta e códigos secretos. É uma coisa tipo casas do Harry Potter, mas sem magia. Há toda uma mística envolvendo essas pessoas, dizem que eles são capazes de lhe arranjar bons empregos, ou acabar com qualquer chancezinha de conseguir um. Se é verdade, bem, nem a protagonista sabe ao certo o que é verdade e o que é mito.
O lance da fraternidade é bem esquisito, principalmente para nós, brasileiros, que não teremos essa experiência. Enfim, dá bastante trabalho cumprir os rituais e as promessas, além de tomar um tempo da pobre da moça, que para completar, ainda tem um trabalho sobre Guerra e Paz para fazer e um quase-namoradinho para administrar. Amy, que já é meio ansiosa, só falta pirar. E, com todo esse trabalho, de uma hora para outra, a fraternidade decide que não quer mais meninas no grupo. Daí começa o fuá...
 Entretanto, o livro não é somente sobre isso. É sobre fazer parte de algo. Lutar por isso. É sobre não ser a melhor opção, mas ainda assim, merecer fazer parte de algo.
Confesso que até achei legal. Provavelmente lerei os outros. Gostei dos personagens. Eles têm potencial para estórias bem divertidas. Afinal, espero que seja mais uma série sobre amizades do que sobre segredos secretos de sociedades secretas que todo mundo sabe. Uma série sobre jovens talentos americanos se divertindo na universidade.
Nesse aspecto, até a protagonista convence. A autora escreve de maneira divertida, com listinhas estilo Meg Cabot, mas passa bem a ideia de uma universitária engraçada e obcecada por boas notas, ainda que para isso ela tenha de ler de fato Guerra e Paz, ou participar de uma sociedade secreta.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Lista de pessoas que já leu: Do seu lado

1. Jeane
2. Gislânia
3. Fernanda
4. Mônica
5. Mardulce
6. Ana Cláudia
7. Bárbara
8. Rafaela
9. Ângela
10. Jully
11. Bruna
12. Carolina
13. Kédyna

E a lista vai crescendo...

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Trecho do capítulo I de All Star



Mariana nunca foi tímida, nem saberia sê-lo. Nasceu ruiva, briguenta e reclamona. A cor vermelha dos seus cabelos sempre foi um holofote natural, chamando a atenção de todos ao seu redor. Na escola, nem precisava de nome, era a ruiva. Apelidos, aliás, nunca faltaram: Ruiva, Pimentinha, Pequena, Sardenta, Miúda, Mari... Como ondas do mar batendo num rochedo, os apelidos iam e voltavam sem abalar a personalidade dela.
Cresceu assim, sem medo de ser quem era. Nitidamente diferente desde o berço, sem ligar a mínima para isso. Uma peça que veio de fábrica e não se encaixava no brinquedo. Mariana também nunca foi bonita. A bonita era Milena, a melhor amiga. Tampouco, chegava a ser feia. O adjetivo para descrevê-la fisicamente não poderia ser outro além de exótica.
Tinha imensos olhos verde-água puxados nas pontas com cílios tão claros que nem dava para ver. Tinha a pele toda pintadinha de sardas dando-lhe um tom de ferrugem, uma boquinha de boneca de porcelana, que apesar da delicadeza de formato, era dada aos maiores impropérios e os cabelos de cachos muito grandes, muito vermelhos.
A mãe adorava o cabelo de Mariana. Divertia-se arranjando os cachos em penteados. Ela era a única ruiva da casa, da família. A recessiva entre as recessivas. Alice agradecia aos céus pelo presente de uma filhinha linda de cabelos tão vermelhos. Sua Pequena Sereia. Sempre, sempre, sua Pequena.
Quando a mãe morreu, os cabelos lhe incomodaram demais. Pareciam um tributo a um passado que jamais voltaria. Vermelho vivo passou a ser a cor do sofrimento para Mariana, então, ela os pintou de azul, e de verde e de roxo, mas o vermelho tinha uma resistência incrível. Resistente como a própria Mariana. Resistente como o amor que era capaz de sentir.
Agora, com dezesseis anos, assumia novamente o vermelho vivo. Sem nenhuma camada de tinta. De certo que Alice não voltaria jamais para a sua vida, mas quem disse que algum dia ela havia partido? A mãe sempre estivera ali, na resistência dos seus cabelos. Na base de tudo que Mariana era. A morte não conseguiria separar jamais amor tão grande assim. Até porque, não existia Mariana sem Alice, a mãe era um pedaço enorme dela mesma.
Foi Alice quem moldou a personalidade de Mariana. Bem verdade que ela já veio prontinha da maternidade. O bebê mais chorão do apartamento. A criança mais mal-humorada da creche. A menina mais briguenta da escolinha. Enfim, um pequeno furacão que revirava tudo por onde passava.
Já Alice era o oposto. Etérea. Quase não pisava no chão. A tranquilidade em forma de mulher com seus gestos largos e delicados. Com um sorriso no rosto, resolvia todos os perrengues nos quais seu furacão particular se envolvia. Contava os segundos até a próxima intervenção pacientemente. Ainda bem que ela nunca gostara mesmo de rotina.
Suas amigas a censuravam por não ser dura. Heloísa, sua amiga de infância, criava uma princesinha dentro de casa usando vários tons de rosa, enquanto sua filha entrava na porrada com os meninos mais velhos que ela para defender seu Pokémon favorito. Nem perdia tempo tentando se justificar. Separava quando corriam risco de se machucar e só. Sabia que um dia o trabalho de lapidação em Mariana daria muito resultado. Ela era uma joia rara.
Sua Pequena era diferente. E ela achava fantástico ser diferente. Incentivou cada idiossincrasia. Se a menina nunca seria uma princesa, Alice tinha muita curiosidade para saber no que se tornaria. Afinal, livre da obrigação de ser delicada, poderia ser qualquer coisa. Mariana não tinha limites, todas as suas amigas afirmavam isso com convicção, mas tinha o universo de possibilidades em suas mãos. E ela jamais abriu mão disso. Fez pintura, escultura, teatro, japonês, alemão, culinária, trapézio, equitação, yoga, tudo que lhe deu vontade de fazer. Sem trauma. Sem medo. Sem tentar ser a melhor. Fez pelo prazer e pelo tempo que lhe deu prazer.
E para rebater, leu. Leu muito. Porque os livros abriram uma janela para os mundos que ela queria conhecer. Os mundos que a seduziam. Mundos aos quais ela parecia pertencer. A biblioteca particular de Mariana, aos poucos tomou conta do seu quarto, dos seus brinquedos, do seu coração.
Com o tempo, seu tempo, o único tempo que ela segue, conseguiu construir pontes diversas entre seus mundos ficcionais e o mundo real. Vive nesse universo paralelo. E vem dando tudo certo.
Mariana foi um projeto a longo prazo que deu certo. Tem uma personalidade incrível. Imprevisível. Interessante. Inventiva. Instigante. Tanto, que mesmo no auge da sua adolescência, não tem a menor vergonha de ser ela mesma. Nem saberia ter. Ela é ela demais para tentar ser outra coisa. 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Guia do Mochileiro das Galáxias


Não entre em pânico!
O Guia do Mochileiro das Galáxias é um livro fora de série. Surpreendente!!
Não sei ao certo se gostei, porque ainda estou chocada com a escrita de Douglas Adams. Para quem é da área da linguagem, às vezes, é difícil acompanhar o livro por conta das inúmeras quebras discursivas. Douglas Adams não se preocupa nem um pouco com essa história de verossimilhança. Sequência também é algo que não o incomoda. Em compensação, a ironia come solta. E as sacadas da Filosofia e da Matemática? Perfeito! Um exemplo de mente brilhante a serviço do mal...
Posso contar um pouco da estória do livro, mas, garanto, isso é totalmente irrelevante. Arthur é um inglês cuja casa está prestes a ser destruída. Um amigo seu, Ford, por um acaso, um alienígena, o convence a não se preocupar com esse problema, pois o planeta Terra será destruído em minutos. O que de fato acontece.
Ford e Arthur  são resgatados por uma nave segundos antes da explosão do planeta. Ford apresenta o livro Guia do Mochileiro das Galáxias ao amigo e, a partir daí, acontece uma sequência de fatos quase aleatórios, ou seja, aquilo que podemos chamara de as aventuras desses viajantes espaciais. Isso é o máximo de lógica que você vai encontrar nesse livro. No mais, são Cachalotes caindo do céu e geradores de probabilidade infinitas.
A historinha não convenceu? Não convence mesmo. Provavelmente, pouca gente vai compreender a graça desse texto. As brincadeirinhas com a ciência são impagáveis. Gente, a greve de filósofos quase me matou. E os ratos... Ah! Os ratos... O que diria Pavlov?
Esse é o humor inglês. Aquele humor que te faz dar uma risadinha de canto de boca. No máximo, um "rá". Porém, um humor muito, muito, muito inteligente. Faria Sheldon Cooper ficar orgulhoso!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Talvez ninguém tenha percebido ainda, mas o Felipe é uma homenagem ao Thiago Pereira.
Sempre imaginei como seria a vida de um atleta de ponta... Deve ser bem difícil fazer escolhas tão importantes quando se é bem jovem!


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Aprendiz - Alejandro Sanz


Música que Vinícios dança com Eleonora no aniversário de André.

A marca de uma lágrima


Um momento nostalgia... 
Nem sei o que dizer desse livro que marcou tanto a minha adolescência. 
Acho que é justo  começar rendendo as devidas homenagens ao homem que incentivou tantos jovens a ler: Pedro Bandeira. 
Quando eu crescer, quero ser Pedro Bandeira. Juro.
Os Karas e a Isabel de A marca de uma lágrima serão meus eternos amigos. Gosto de pensar que há um pouco deles em cada personagem meu. Esses jovens inteligentes, tão capazes, cheios de valores e características nobres. Certa vez, eu vi uma entrevista desse mestre da literatura infanto-juvenil em que lhe perguntavam sobre o excesso de qualidade de seus personagens, ele respondeu que seus personagens representavam aquilo que ele sonhava para a juventude brasileira. Concordei com cada letra daquela afirmação. Quero muito que a juventude brasileira esteja repleta de Migueis, Magris, Isabeis, Calus e Crânios. Quero mesmo.
Em A marca de uma lágrima, Pedro Bandeira faz uma releitura da peça teatral romântica de Edmond Rostand: Cyrano de Bergerac. A peça é linda. Eu a li na faculdade. O herói inteligente, porém feio e narigudo, ajuda ao amigo bonito a conquistar Roxane, a moça por quem ele próprio também era apaixonado. Linda mesmo. Mas nada que se compare ao encantamento que o livro de Bandeira provocou em mim no auge dos meus onze anos.
No livro, encontramos Isabel, uma menina inteligente que se acha feia, apaixonada pelo primo Cristiano, ela ajuda a amiga Rosana a conquistá-lo através de cartas. As cartas são um espetáculo a parte, com poemas que só poderiam ser escritos e só fazem sentido mesmo para um público juvenil. Eu me divirto horrores quando os releio e penso na minha cabeça tão inocente de antes. 
O amor de Isabel é inflamado. É urgente. E é infantil. Até na descoberta do desejo é possível perceber esse misto de urgência e inocência. Afinal, quem já leu esse livro jamais esquecerá: "Vem, Cristiano, vem tomar o meu champanhe".
Adoro tudo nesse livro. Até a vergonha que eu sinto de já ter me identificado com ele. Porque A marca de uma lágrima me faz perceber o quanto já cresci, o quanto me tornei uma leitora mais crítica, mas, ao mesmo tempo, eu ainda estou ali. Em algum lugar de mim mesma, eu ainda acredito na Isabel, nas ilusões de Isabel. E torço para que cada menina do mundo encontre o seu Fernando.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

RELICÁRIO




Na primeira vez que Edgar pôs os olhos em cima de Heloísa nada aconteceu. Exatamente isso: nada. Ninguém respirou. Ninguém piscou. A gravidade esqueceu o que era massa vezes aceleração e até o spin dos átomos deu um tempinho na rotação. O mundo. Ou, pelo menos, o mundo de Edgar deixou de funcionar por dez segundos.
Nesses dez segundos, como alguém que está à beira da morte, ele viu sua vida passar junto daquela moça de cabelo curtinho. Não o passado. O futuro que ele queria construir com ela. O casamento. A casa. A família. Do primeiro beijo às Bodas de Ouro. E ele soube que nada valeria mais do que conquistá-la. Difícil seria conquistá-la.
Edgar era um estudante de Medicina que veio de uma escola pública. Sua conquista foi tão grande que saiu até no jornal. Ele estudou dia e noite, revisando os conteúdos pela madrugada. Passava os domingos estudando Física e Matemática, as matérias que tinha mais dificuldade. Estudava nem que fosse trancado no banheiro para fugir da gritaria.
Não que sua família fosse paupérrima ou desequilibrada. Simplesmente, com três irmãos além dele para criar com salários de costureiros, os pais não tinham condição de arcar com esse tipo de despesa. E, desde cedo, Edgar tomou consciência que seus sonhos deveriam ser do tamanho do seu esforço.
Heloísa era o oposto. Era amiga de infância de Adriano. Adriano, seu melhor amigo da faculdade de Medicina, pertencia a uma das famílias mais ricas da cidade. Seu pai, Demóstenes Leal, era um advogado de sucesso. A casa de Adriano deixava Edgar tonto. Não imaginava que pessoas pudessem ter tantas regalias. Até mordomo eles tinham. Colecionavam carros. Carros. Sua família não tinha um carro ainda, mas eles tinham pelo menos dois para cada membro.
Enquanto Edgar assustava-se com tudo naquela propriedade, Heloísa parecia muito à vontade. Ela e a mãe de Adriano conversavam com cumplicidade tomando chá com biscoitos. Edgar achava que aquilo só acontecia em filmes, mas a cena se repetia bem diante do seu nariz. A moça falava baixo e dava mordidinhas minúsculas nos biscoitos amanteigados.
Ele reparou nos dedos finos e delicados de unhas bem cuidadas, tão diferentes das suas mãos de pele grossa de tanto ajudar na lida da casa. Reparou no corte do cabelo na altura das orelhas. Era um corte tão bem feito que ele imaginava que cada fio ficaria no lugar mesmo no meio de um vendaval. E reparou na sandália. Aquela sandália que ela usava, com pedrinhas brilhantes, era de uma grife exclusiva. Aquela sandália deveria ter custado mais que o ordenado de sua mãe. Lembrou-se que os sonhos deveriam ser do tamanho do esforço. Aquele sonho de menina não cabia na força dos seus braços de menino batalhador.
Subiu as escadas sem vontade, com a cabeça baixa e o mundo nos ombros. Adriano, que o acompanhara até a cozinha para um lanche, estranhou a demora. Ainda tinham muito para estudar, Edgar não dispensava estudo. Era o melhor aluno de sua turma. Voltando pelo mesmo caminho. Entendeu na hora o que havia acontecido e com um sorriso no rosto insistiu em apresentar o amigo para Heloísa. Edgar preferia morrer a enfrentar o olhar bem maquiado daquela menina linda com sua calça jeans sem marca, mas Adriano simplesmente o puxava escada abaixo. Logo estava de frente para ela.
Edgar parecia ser feito da mesma manteiga dos biscoitos na mesinha de chá, pois sentia que derretia diante do sorriso contido de Heloísa. Ela não precisou fazer nenhuma cara feia, ou torcer o nariz, ou desprezá-lo com o olhar. Estar diante um do outro foi o suficiente para que ele entendesse seu lugar. Heloísa pertencia a outro mundo, um mundo paralelo ao seu. Um mundo que, provavelmente, ele passaria a vida inteira tentando integrar sem sucesso. E, mesmo assim, não conseguiria ser uma daquelas pessoas. Não conseguiria ser como Adriano na sua gentileza natural de gestos.
Voltaram para o quarto, mas Edgar não era mais o mesmo. Perdia-se fácil em pensamentos e quando Adriano fez uma pergunta estúpida de anatomia e ele não soube responder, ambos compreenderam que a tarde de estudo estava perdida. Edgar desabafou suas angústias. Tinha tanto orgulho da sua família simples, porém, nunca se sentira tão insignificante quanto olhando para os pés daquela menina. A sandália de grife parecia esmagá-lo.
Foi então que Adriano mostrou pela primeira vez a pessoa que era. Naquela tarde, deixaram de ser colegas de faculdade e tornaram-se amigos, irmãos. Adriano disse com todas as palavras o quanto Edgar estava perdendo tempo julgando as pessoas pelo que elas usam, pelo que elas têm. Afirmou que Heloísa, debaixo da roupa de grife, era uma das garotas mais bacanas que ele já conhecera, que tinha uma alma simples e que se ele, Edgar, não tinha forças para lutar por ela, era porque não a merecia. Mas que não achava nada justo ficar arranjando desculpas por conta de dinheiro.
Adriano contou também que o pai nascera filho de mecânicos. E que tudo que ele conquistou foi com muito esforço e muito estudo. Naquela casa, o esforço valia muito mais do que a aparência. A mãe de Adriano, agora sentada na sala tomando chá, em outros tempos, lavou roupa para fora. Realmente, ela não tinha os dedos delicados de Heloísa. E, de fato, Edgar foi muito bem recebido na casa dos Leal ao contrário do que esperava. Doutor Demóstenes fazia muito gosto daquela amizade. Agora ele era capaz de entender, o pai do amigo reconhecia nele os seus próprios méritos.
Foi muito por causa dessa conversa que, na manhã seguinte, quando Adriano o convidou para ir jogar futebol na praia, ele aceitou. Mesmo sabendo que Heloísa e sua melhor amiga Alice também iriam. A praia era um lugar democrático. Jogando futebol de bermuda na areia, não dava para saber quem era de família rica e quem era da ralé.
Estava decidido. Não ia desistir do futuro que sonhara. Já chegara até ali. Os sonhos são do tamanho do seu esforço. Ele estava disposto a se esforçar. Fez uma promessa a si mesmo, se conseguisse, se aquela menina linda fosse sua, tudo, absolutamente tudo, seria razão para celebrar. E a festa começou pelos olhos, celebrou consigo cada curva que o biquíni de Heloísa deixou a mostra. Perdeu um lance de gol, mas não estava nem aí. Seu futuro esticava-se na areia, um futuro lindo em todos os seus detalhes, em breve, seria um futuro banhado de sol. Adriano deu um tapa na sua nuca o fazendo voltar para o presente.
Voltou para o jogo. Não era muito bom, mas, boa parte daqueles caras, jamais tinha jogado no meio da rua, então, ele levava vantagem na malandragem. Divertiu-se. Sua equipe ganhou. Depois, um banho no chuveiro da barraca e, finalmente, conversar com as meninas. Ele puxou assunto. Podia ser o cara pobre, não precisava ser o cara tímido e chato.
─ E aí, Heloísa, você faz faculdade?
Ela demorou a responder. Edgar não tinha notado, mas ela estava com um pedaço enorme de sanduíche natural na boca. Um pedaço nada parecido com as mordidinhas delicadas no biscoito amanteigado. Quando perguntou, ela quase se engasga. Ficou abanando as mãos na cara, tentando mastigar depressa. Ele achou muita graça daquilo. Alice ofereceu um gole de refrigerante com um olhar de censura, pelo jeito, Heloísa fazia isso sempre. A outra moça voltou a ler como se nem pertencesse ao mesmo mundo que eles.
─ Eu estudo Física na Federal... – Sua voz saiu fina quando finalmente disse.
─ Física? Tipo: Mecânica, Termodinâmica, Eletricidade... – A surpresa foi tão grande que ele nem conseguiu controlar o tom de voz.
─ Essa mesma. – Pelo jeito que ela respondeu, não gostou nem um pouquinho do tom dele.
─ Desculpa. – Abaixou o rosto com vergonha. – Sempre te fazem essa pergunta, não é? – Ela fez que sim com a cabeça e uma careta azeda. – Devem perguntar também se você faz Educação Física, não é? – Ela continuou confirmando com a cabeça. – Foi mal. Sabe o que é? – A coragem vinha não se sabe de onde. – É que com esse corpo lindo desse jeito é natural a gente pensar que você faz Educação Física.
Heloísa ficou vermelha na mesma hora. Adriano, que estava do outro lado da cena fingindo contemplar o mar, olhou para ele surpreso com a coragem. E até Alice levantou os olhos da leitura. Edgar não se intimidou. Continuou a falar.
─ Nossa! Com todo respeito, Heloísa, nunca conheci uma garota tão bonita que fizesse Física. Caraca! Você deve ser muito inteligente também. – Ela não respondeu, ainda estava chocada. – Essa combinação é muito perigosa, sabia? Desse jeito eu me apaixono.
─ Ela foi convidada a cursar algumas disciplinas do mestrado ainda na graduação. – Alice respondeu sem deixar de ler. – Isso não é uma mulher, meu filho, isso é Newton travestido.
Todos riram e a conversa engrenou. Os quatro falavam, o tempo passava depressa, mas Edgar deixou bem claro que estava a fim de Heloísa. Tanto que perguntou se podia levá-la para casa e ela aceitou. Adriano e Alice foram de carro e os dois pegaram um ônibus. Ele pagou as passagens, ela comprou dois picolés desses de praia com gosto de sal por ser feito com água de torneira. Edgar estava fascinado, apesar da pose de patricinha, Heloísa era muito simples. Cantava todas as músicas da trilha sonora da viagem de ônibus.
─ Olha, para uma moça educada de sociedade, você até que é pé no chão... – Ele sorria enquanto ela se sacudia no balanço de um funk. Vagaram dois lugares, eles sentaram juntos.
─ Ah! Eu sou do povo, menino! – Sorriu e encostou a cabeça no ombro dele. Edgar estremeceu. Concluía que aquilo ali era se apaixonar, pois nunca sentirá nada parecido antes. – Esse negócio de sociedade é um saco às vezes. – Ela desabafou. – Adoro o Artur e o Adriano, sabe? Mas a mãe deles... – Fez um gesto colocando o dedo na garganta mostrando o quanto a mulher a desagradava. – Pense numa mulher chata. Preocupada com a vida dos outros e com as regras da sociedade. – Balançava a cabeça chateada. – Não posso nem falar nada, minha mãe é do mesmo jeito. – Edgar não conseguia parar de olhar para ela. Que criatura espetacular. Linda. Inteligente. Ele precisava passar o resto da vida do lado dela. – Eu não sou assim, não, sabe, Edgar? Eu não acho que as pessoas são aquilo que elas têm. O universo é tão maior que isso. Tão maior.
─ Heloísa, sem querer te interromper, mas eu não estou mais aguentando... Posso te dar um beijo?
─ Eu pensei que você não fosse mais pedir.
Foi o primeiro beijo deles. O primeiro de muitos. Não como Edgar tinha imaginado. Muito. Muito melhor.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Trecho do capítulo I de Prá você guardei o amor




Felipe e Guilherme estavam curtindo a popularidade, esbanjando sorrisos com canto da boca para as garotas que passavam os devorando com os olhos. Depois da visualização geral, cada um fixou o olhar em algo que lhe chamava atenção.
Primeiro, Guilherme mostrou os dois mestres da escola: Vinícios e André. Eles estavam se formando, mas nos anos que passaram no Santa Inês, foram senhores da pegação. Guilherme, apesar de ter sofrido maus bocados com Vinícios, admirava-os profundamente. E mais, estava muito feliz porque aquela era a última festa dos dois. Por isso, aplaudiu bastante quando Vini, como era conhecido, subiu ao palco para receber o prêmio de melhor atleta do ano.
Dona Cecília continuou a premiação dos alunos. Felipe não tomava parte dos aplausos, tinha certa antipatia por esse tal de Vini. Sua irmã, Rosana, fora uma das idiotas que se apaixonaram por ele. Mais uma de suas conquistas descartáveis. Achava ótimo que estivesse mesmo saindo do colégio. Os olhos de Felipe procuravam uma coisa bem melhor de ver, logo focaram na figura mais interessante da festa toda: o nome dela era Milena.
Milena tinha quinze anos e o mundo aos seus pés. Mile era patricinha da pior espécie. Só usava roupa de grife, só falava com gente interessante e tinha até um motorista particular. Linda demais! Aparentemente, o mundo parava para vê-la passar. Aquela menina mexia com Felipe de um jeito esquisito. Ele não cansava de olhar para aquele cabelo bem cuidado, que deveria ser macio e cheiroso, queria tocar naquele cabelo claro. Além disso, ela tinha um olhar que o destruía por dentro, mesmo com cinco medalhas no peito, o olhar de Milena o fazia se sentir um lixo. Muitas vezes se perguntou, enquanto pensava nela nas noites de solidão, o motivo daquilo. Poderia ficar com qualquer uma, mas queria Milena, que o desprezava.
Chegou a tentar uma aproximação. Tudo inútil. Deixava bem claro que ele não merecia nem pisar o mesmo chão que ela. Foram alguns foras sensacionais. Inesquecíveis. Ele e a sua reputação gostariam muito de dizer que estavam em outra agora, mas seu olhar continuava procurando por Milena no intervalo, na saída da escola ou na pista de dança como fazia naquele instante.
Claro que ela percebia. Claro que ela provocava. Gostava de ter Felipe nas mãos, brinquedinho para fazer inveja às colegas. Sorria com dentes perfeitos olhando para ele, dava beijinhos apertados no rosto dos seus colegas de sala. Matava Felipe de ciúmes. Mas se ele se aproximasse de alguma forma, já tinha na ponta da língua o próximo fora fenomenal.
─ Ainda tá nessa, cara? – Disse Guilherme depois de acompanhar o olhar do amigo até Milena. – Desencana, rapaz. Essa menina adora te maltratar.
─ He! Eu sei. Mas eu devo mesmo gostar de um desafio... – Continuou olhando para Milena que retribuía o olhar. A provocação era o ingrediente que os unia.
─ Cheio de gatinha aqui louca pelo campeão do colégio Santa Inês e você perdendo tempo com essa patricinha malvada. Não me conformo. – Guilherme balançava a cabeça em desacordo.
─ Mas eu te garanto, cara, ou eu pego de vez essa menina ou eu supero.
─ Senti firmeza! – Cumprimentou Felipe com um aperto de mão. – Mas nem tanto... – Guilherme piscou um olho desconfiando do colega. – Quer saber, vou te dar uma ajudinha...
─ Ajudinha? Que ajudinha? – Dessa vez quem desconfiou foi Felipe.
─ Vou fazer você largar dessa menina. Aposto com você que eu fico com ela.
─ Nem pensar, fura-olho!
─ Fico sim. – Divertiu-se Guilherme com a chateação evidente do amigo. – Quem sabe assim você larga o osso. Garanto que não vai ser sacrifício nenhum. – Guiga deu uma secada em Milena dos pés a cabeça. – A danada é bonita demais!
─ Qual é, Guilherme? Nada a ver isso aí.
─ Tá com medo?
Guilherme atiçou o espírito competitivo de Felipe com aquela provocação. Para o loiro era somente curtição, mas Felipe não foi capaz naquele momento de admitir que sentisse algo real por Milena. E, além disso, não gostava de perder. Concordou com o amigo e sua aposta idiota, agora disputavam Milena como quem disputa um pódio.
─ Beleza. Mas vamos definir os termos dessa aposta. Ganho o que se eu ficar com a Milena primeiro? – Brincou Guiga.
─ Sei lá, cara. Quer um beijo meu? – Disse sem o mesmo bom-humor.
─ Cai fora, marmanjo!
─ Quem sabe um autógrafo para vender na internet quando eu for medalhista olímpico?
─ Boçal, heim? Vai engolir muita água da minha raia antes disso acontecer... – Guilherme sabia que Felipe nadava melhor que ele, mas não gostava quando o amigo se exibia. – Mas já que é assim, quero uma tatuagem.
─ Pago a tatuagem pra você, então. – Disse Felipe sem nem hesitar.
─ Não, a tatuagem é em você. Quero que você tatue a bandeira do Brasil.
─ De jeito nenhum. Isso pode complicar minha vida. – Reclamou.
─ Calma, cara. Antes de começar a espernear como uma garotinha, escolhe o seu prêmio para a aposta...
Felipe pensou, para valer uma tatuagem permanente da bandeira do Brasil, o castigo de Guilherme deveria ser inesquecível. Deu uma volta em torno do salão com o olhar, encontrou o que queria.
─ Beleza! Eu tatuo a bandeira do Brasil, se você namorar a Beta Cintura de Kombi até o fim do ano.
─ Trato feito. – Guilherme estendeu a mão para o amigo. – Tinha a mais absoluta certeza de que venceria a aposta. Milena, com todo o seu jeitinho de enjoada, já tinha dado indícios de que queria ficar com ele.
Felipe cumprimentou o amigo com o aperto de mão fechando o acordo. Nesse mesmo instante, a luz de um refletor focou Guilherme. Dona Cecília tinha acabado de anunciá-lo como rei do baile. A rainha eleita foi Milena.
Com uma imensa satisfação, Guiga trocou um olhar cheio de significados com o amigo. O destino conspirava, teria Milena em seus braços e poderia esfregá-la na cara de Felipe, tendo a plena certeza que ele ia se morder de ciúmes sem poder fazer absolutamente nada. Se desse sorte, naquela mesma noite, venceria a aposta.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Como estamos...




Hoje está chovendo. Isso é uma raridade no Ceará. Existe até certa comoção no facebook por conta da chuva. Poderia fazer o post inteiro sobre isso, mas não. Vou aproveitar o clima gostoso para falar como está meu processo de escrita.
Ontem, estava escrevendo o sexto capítulo do meu terceiro romance. Como vocês sabem, ainda não publiquei nenhum. Continuo na batalha. A divulgação está caminhando, afinal, o blog tem um mês e quase duzentos acessos. Estou feliz com isso. :)
Voltando ao livro, bem, pretendo que ele se chame All Star. Mais uma música do Nando Reis. Todos os três têm nomes de músicas do Nando. Não porque eu seja alucinada pelo artista, gosto dele é óbvio, mas porque acho que o amor descrito nessas canções é um sentimento verdadeiro, real. Elas não falam de princesas e príncipes, falam de gente comum, de amor comum e de como isso é especial mesmo assim. Enfim, as músicas do Nando são minhas inspirações. Gosto de acreditar que somos visitados pelas mesmas musas.
Meu primeiro romance eu chamei de Do seu lado. A primeira vez que o escrevi, eu tinha dezessete anos, mais ele se perdeu junto com um computador. Infelizmente, acontece. Fiquei muito chateada. Anos se passaram e aquela estória não me saía da cabeça. O Vinícios, meu personagem favorito, não me deixava em paz. Eu cresci, fiz faculdade, pós-graduação e ele continuava ali. Aí decidi escrever de novo. E foi bom demais rever todo mundo. Relembrei de cada personagem, apresentei-me a outros. A estória é diferente em vários pontos da original, embora os personagens tenham se mantido quase os mesmos.
Do seu lado trata de certezas. Eu imaginei um adolescente que soubesse exatamente aquilo que queria e que não temesse lutar por isso. Eu escrevi esse cara assim. Acho Vinícios apaixonante. Quem já leu, às vezes, consegue amá-lo até mais do que eu. Meu amor é de mãe, sabe. Mas eu entendo a mulherada, também o considero sedutor com todo aquele carinho, aquele cuidado, aquela dedicação.
         Já a Malu é um extremo oposto. Só dúvidas. Só medo. Ainda não sou sua grande fã. Na minha cabeça, ela ainda precisa provar a que veio. Fazer alguma coisa para merecer aquilo que a vida lhe deu de mão beijada. E isso diz muito sobre o futuro.
         Meu segundo romance eu terminei no comecinho de janeiro. Ainda nem mandei para a Biblioteca Nacional e ainda não foi lido inteiramente por ninguém (embora uma amiga já esteja com uma versão dele no seu computador). Ele se chama Pra você guardei o amor.
         Eu tinha decidido mudar de foco, escrever sobre outros adolescentes, mas foi me dando uma saudade terrível desse pessoal. Principalmente quando minhas amigas, que começaram a ler Do seu lado, comentavam sobre eles. Fiquei até com ciuminho, pois é engraçado quando alguém comenta sobre o seu livro com você, o que eles acharam daquela cena, o que eles entenderam dos personagens. Parece que os personagens estão contando segredos para eles que não contaram para mim. Mesmo nossa amizade sendo ainda mais antiga. É bem esquizofrênico se quer saber.
Em Prá você guardei o amor, vamos entrar num sentimento diferente. Não se trata de um amor de infância. Os dois protagonistas vão ter de descobrir o que é esse negócio que eles sentem um pelo outro. E a tarefa não é fácil. Eles dois são insuportáveis. Achei extremamente bacana ver o quanto Milena e Felipe vão crescendo ao longo da narrativa. O quanto vão abrindo mão das máscaras que carregam. Como acabam mostrando que são tão mais do que aparentam ser, apesar dos seus defeitos.
Sei que a empatia com Vini vai ser sempre maior, mas eu os amo da mesma forma. Como se fossem filhos.
Nesse livro, fiz questão de mostrar um pouco mais do André. Mostrar porque tanta lealdade a um cara que não parece merecê-la. Gente, eu garanto, o André é o máximo. Ele também usa máscaras. Quando elas caírem, você vai se apaixonar por ele tanto quanto eu estou apaixonada.
Você vai conhecer também a Mariana. Ela é tão legal que tive de cortar suas asinhas ou ela tomaria o livro inteiro. É uma ruivinha espaçosa essa menina. Tem muito da minha irmã nela. E acho que é por isso que gosto tanto, tanto, tanto da Mari. Mariana cresce cada vez mais. Acho que é a minha atual melhor amiga. Posso ver a cara dela em todas as cenas que estamos criando, criando juntas.
Mariana é a protagonista de All Star, o terceiro livro que estou escrevendo. Estou de fato postergando o quanto posso essa estória. Nela, você vai ver as pontas soltas que andei deixando nos livros se unindo. Tomara que gostem dos destinos dos personagens. Eu já tenho ideia do que vai acontecer, só não sei ainda como isso vai acontecer.
Afinal, personagens são criaturinhas temperamentais. Tem vida própria. Uma amiga, por exemplo, ficou meio tímida de discutir o livro comigo. Achou ridículo discutir o que ela achava que os personagens pensavam com a autora. Na cabeça dela, eu sabia exatamente o que eles deveriam estar pensando. Ledo engano. Sou tão espectadora quanto ela. Somente ouvi a estória primeiro, mas estou louca para discutir sobre eles. Saber se contam os mesmos segredos para mim e para vocês.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Filho de Netuno


Percy Jackson, que saudade que eu tava docê, menino! (Se você é um maníaco que não suporta um spoiler: pare aqui!)
Para mim, este foi um dos melhores livros do Rick Riordan, bastante Percy e nenhuma Annabeth. Não tenho   mais 13 anos para me apaixonar por personagens de livro, então, não estamos falando de ciúmes. Só não gosto da Annabeth. Já o Percy é uma gracinha, gente. O cara lembra de ligar para a mãe no meio de uma batalha. Está decretado: Pecy Jackson é um fofo!
Sem querer comparar, mas já comparando, Percy fez valer a pena cada chilique adolescente do Harry Potter. Lembro-me de ler e pensar enquanto lia o quinto livro: que garoto mala esse Harry. Não me leve a mal, acho que JK Rowling é uma escritora quase perfeita (eu a achava perfeita até o livro sete), mas o Harry adolescente é um mala sem alça e sem rodinha. Ele não abaixa a cabeça nunca, não escuta um conselho e não pede desculpas. Mesmo colocando seus amigos em apuros. É um orgulhoso. O Percy não, eventualmente ele até engole um sapo. Sabe que, lutando contra mais fortes, é melhor medir as possibilidades antes de falar besteira. E sempre pede desculpas. Fofo. Fofo. Fofo.
Nesse livro, nós vamos junto com o Percy sem memória para o acampamento Romano. Adorei tudo lá. Tudo. Pensei que Rick Riordan não fosse mais me surpreender com esse lance de divindades, mas surpreendeu. As diferenças entre Grécia e Roma são fantásticas. E dá para ver o historiador Rick Riordan lá, pois ele não elegeu uma cultura para ser melhor que a outra. Apenas apontou as diferenças. E, de fato, não existe isso de cultura melhor do que a outra.
Meu destaque no acampamento romano fica com Octavian, filho de Apolo, que faz previsões lendo entranhas de bichos de pelúcia. No mínimo, inusitado. Octavian é um vilãozinho. Não sei se será um traidor, espero mesmo que não. Mas ele é convincente usando a oratória. E acho importante colocar personagens que resolvam problemas usando palavras. Apenas o poder das palavras.
Passemos para os dois companheiros de aventura de Percy: Hazel e Frank. Primeiro, Hazel Levesque, filha de Plutão, para quem não conhece, esse é outro nome para Hades. Uma coitada, gente. Ô moça para sofrer! Negra de Nova Orleans, em plena década de quarenta, com uma mãezinha xexelenta e um poder de encontrar pelo chão metais e pedras preciosas amaldiçoadas, ela tem uma vida de cão. Pelo menos, foi curta. Mas quando o Mundo Inferior vira uma bodega por conta no sumiço de Tânatos, ela tem uma segunda chance. Para mim, não cheirou, nem fedeu. Dá para aguentar, contanto que ela morra alguma hora.
Já o Frank à Moda da Casa Zhang eu achei um pouquinho demais. Ele é tranquilo e inseguro, tudo bem, e tem um super ponto fraco, mas a família dele parece aquela pizza à moda de pizzaria vagabunda que vem com absolutamente todos os ingredientes que tenham no local. Ele é chinês, grego, romano, filho de Marte, descendente de Netuno, parente de um argonauta e canadense. Só? Não. Ele é metamorfo também. Foi demais para mim. Tomara que ele seja a reencarnação do Sammy da Hazel e morra junto com ela em algum momento. Felizes para sempre nos Elísios.
A única coisa que gostei sobre Frank, foi o fato de ele ser filho de Marte e não ser meramente um caceteiro. Também adoro a Clarisse La Rue, filha de Ares. Bem, eu mesma sou de Áries e, provavelmente, se fosse semideusa, seria dessa casa. Então, foi bom ver Marte/Ares numa forma menos agressiva e mais inteligente.
Continuemos a discutir sobre o livro e sobre a série: sei que para enfrentar os desafios que Riordan preparou é preciso semideuses fortes. Na minha opinião, a ponta fraca dos heróis até agora apresentados, entre gregos e romanos, é a Annabeth, com certeza. Percy e Jason são fodões, Leo, Piper, Hazel e Frank também não deixam a desejar, prefiro acreditar que o sétimo é Nico. O garoto é meio emo, mas é tão poderoso quanto Jason e Percy. Já Annabeth, bem, é melhor ela entrar para o mundo da decoração de interiores.
Já estou esperando o próximo.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Apaixonada por palavras


Este foi o último livro lido no feriadão...
Para começo de conversa, a capa é linda. De excelente gosto, afinal, acho que é isso mesmo, quando gostamos de palavras, precisamos devorá-las como fazemos com M&Ms.
Além disso, a escrita de Paula Pimenta me encantou. Fiquei com vontade de ler os outros livros dela. Suas palavras são tocantes e vão de uma doçura de mulher a uma elegância de menina sem titubear.
Porém, eu, particularmente, não gostei muito do livro. Nada de mais! Apenas um desencontro de gêneros. Eu queria um livro de crônicas que falassem de amor, mas acabei quase invadindo a intimidade da autora. Caí de paraquedas na sua estória com sua cachorra e nas conquistas do namorado.
Não sabia que o livro era uma coletânea de crônicas de um blog. Dessa forma, aos poucos, vamos desvendando a pessoa por detrás das palavras, por detrás dos livros. Suas meninices, seus amores, suas vontades... Como fazemos nos blogs.
Eu adoraria ter lido o que li no livro num blog. Juro. Porém, como eu não sabia e já tinha uma expectativa, acabei sentindo falta da Paula Pimenta ficcional. Foi só isso.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O Herói Perdido


Sempre que eu leio algo de Rick Riordan, eu me divirto. A Mitologia Grega é um dos meus assuntos favoritos de todos os tempos e a releitura de Riordan é leve e moderna. Apesar de adorar os clássicos, gosto da mistura. Jamais me esquecerei da medusa sendo perseguida pelo seu reflexo no celular de Percy Jackson.
O Herói Perdido faz parte da série que dá sequência a série Percy Jackson e os Olimpianos. Achei que seria complicado continuar já que os semideuses enfrentaram nada mais do que Chronos no fim da série. Mas, até que deu certo e agora eles arranjaram uma vilã mais terrível ainda. Embora eu ainda não saiba o que ela possa querer entre os mortais depois de todo esse tempo. Eu a imaginava uma senhora calminha, sabe? Pelo jeito, está entediada. Fazer o quê?
Nesse livro, não temos o Percy, que está desaparecido. Somos apresentados a novos personagens. O principal é Jason, filho Júpiter. Que perdeu a memória, embora dê para perceber que ele sabe de muita coisa, coisas que serão reveladas ao longo do livro. Gostei dele. Ele já é mais velho e não é tão temperamental como Percy. Ele é disciplinado como um soldado romano. E isso diz muito sobre ele.
Vamos para os dois coadjuvantes de luxo. Primeiro, Piper McLean, descendente de índios americanos, filha de Afrodite e com problemas com o pai famoso. Minha irmã detestou essa personagem, por isso, eu esperava bem menos. Mas, sabe, ela tocou meu coração. Porque seu poder é carisma. Afinal, ela é filha de Afrodite. Bonita e tal... Embora isso não interesse, acho a parte romântica de Riordan fraquinha. E que me perdoem os muito fãs, mas a Anabeth também é chatinha que dói. 
Piper convence as pessoas com suas palavras. E ela nem é convincente. Mesmo assim, consegue o que quer. Minha irmã deve ter detestado isso. Já eu me lembrei das partidas de RPG. Quem escolhe ter carisma alto, sempre se ferra, sabe. Porque o seu colega com força alta, joga um dado e sabe se matou o monstro, ele não tem que provar para o mestre que tem aquela força de verdade. Porém, jogadores com carisma, quando usam das atribuições de seus personagens, têm que inventar desculpas convincentes. Eles têm de fato provar que tem carisma. Não é só jogar um dado. E eu sempre achei isso injusto. (meu personagem tinha carisma alto, e eu não podia simplesmente piscar os olhinhos e conseguir o que queria). Mas a Piper pode, e eu achei digno. Senti-me de alma lavada. Até porque, para compensar, na batalha, ela é uma bocó. Mais atrapalha do que ajuda.
E tem também o Leo Valdez. Filho de Hefesto. Acho que todos aprendemos a amar Beckendorf. E como ele se foi, precisávamos de outro filho de Hefesto. Leo é engraçado para se defender. Sofreu para caramba. Por isso, quando o foco está nele, percebemos que é bem deprê. Ainda não sei se gosto dele. Mas, com certeza, seus poderes são fenomenais. 
Os vilões também me surpreenderam. Medeia, principalmente, como vendedora de um loja de departamento. A história de Medeia é controversa. Ela matou os próprios filhos, é verdade. Mas também não queria que sofressem com o pai o que ela sofrera. Jasão foi péssimo com a coitadinha, sabe? A mitologia tem dessas coisas, nem os deuses nem os heróis são perfeitos. Eles são humanos. E erram. E, outras vezes, são legais. Isso explica também o comportamento de Hera, que muitas vezes é uma chata. Ela atazanou bastante a Anabeth. Porém, ajuda muito esses novos heróis, chegou a ser babá de Leo quando ele era pequeno. E madrinha de Jason e a causa de sua perda de memória.
Enfim, gostei do livro. Riordan é engraçado e criativo. Escreve para jovens de maneira consistente e já convenceu a muitos deles a se interessarem por mitologia. O que, por si só, já é o máximo. Eu recomendo. Aliás, também comprei o Filho de Netuno, o próximo livro da série Os Heróis do Olimpo e vou já já começar a ler...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Lola e o garoto da casa ao lado


Que livro fofo, meu Deus! 
Eu estava merecendo uma coisinha gostosa dessas. Juro que estava!
A Lola é maravilhosa. Ela é filha adotiva de um casal gay de São Francisco e é maravilhosamente descolada. Adorei imaginar cada figurino dela, da capa de chuva às perucas coloridas. A moça tem um sonho de ir ao seu baile escolar de Maria Antonieta. Que posso dizer: autêntica! E na cidade certa, com os pais certos. Pais que, apesar de gays, são rígidos com sua educação. Enfim, é uma garota que eu gostaria mesmo de conhecer.
Tem também um namorado mais velho. Ele tem 22 anos. E, é claro que, como ele não é o garoto da casa ao lado, você vai ficar torcendo para que o namoro termine. Para que ele seja um idiota e tal. Mas não, ele tem lá seus problemas, mas é apenas jovem. Fazendo burradas de jovem e sendo inseguro, mais ainda por ter de manter uma pose de maduro com uma garota que o deixa louco, e ainda assim, sendo apenas jovem... Totalmente crível. Fiquei feliz por Max não se tornar um vilão.
E tem o Cricket, o garoto da casa ao lado por quem Lola foi apaixonada a vida inteira. (Quem já leu algo meu sabe que eu tenho um fraco por namoros que começam na infância). O rapaz é um nerd compridão que acompanha a irmã gêmea em competições de patinação no gelo pelo país. A família inteira vive em função dessa irmã. E ele fica meio de lado, mas nem liga. Pelo menos, não liga muito. Ele é um fofo. Dedicado e sincero. Um cara companheiro mesmo. Cricket também me convenceu por sua simplicidade.
Enfim, Stephanie Perkins mereceu o meu respeito. Diálogos fofos e reais. Personagens bem apresentadas. E detalhes, muitos detalhes interessantes, como a mão de Cricket que está sempre rabiscada de piloto preto, muitas vezes com uma estrelinha, todas as estrelas com um significado.

Este é o segundo livro dela. O primeiro foi Anna e o beijo francês que eu não li, mas acho que vou ler...